sábado, 25 de abril de 2015

702 - «ESTE HOMEM....» - BERTOLT BRECHT

702

ESTE HOMEM SABIA ELABORAR
UM PLANO, E CAÍU

Este homem sabia elaborar um plano, e caíu. Estoutro
Mostrou coragem, e caíu. Quanto a nós, congratulamo-nos
Com o plano e com a coragem, e choramos.

Alegrámo-nos por que eles batiam
E choramos por que eles cairam e não
Por que eles se bateram,
Ah, nem todo o homem que regressa a sua casa é um vencedor
Mas não há vencedor que não regresse a sua casa.

BERTOLT BRECHT

sexta-feira, 17 de abril de 2015

697 - «BRISA» - FERNANDSO ECHEVARRIA

697

BRISA

Mão de Deus fluvial
toca a estrela e a rosa.
E só repousa
na música geral.

A lágrima de tacto.
A água não arruma.
Estremece. De facto
cria o mundo de espuma.

E as flores do fundo
a conhecem ardente
terremoto, rente
ao coração do mundo.

O mundo quase mudo
que um grande mar invade.
Livre. Da castidade
de quem só ama tudo.

FERNANDO ECHEVARRIA

sexta-feira, 10 de abril de 2015

695 - «CORRESPNDÊNCIA» - FERNANDO ECHEVARRIA

695

CORRESPONDÊNCIA

Eira que tu vergaste, meu senhor,
com pancadas de cruz no gelo vivo.
Dorso que espalmas, malhas sem motivo
além da violência do amor,

A pedra, rompe dos dentes, com furor,
do meu agudo beijo o Teu esquivo.
Malhas, Senhor, meu beijo, sem motivo
além da violência do amor.

Espancas e vergastas o desejo
de a Ti me dar comoTe dou um beijo.
Malhas, Senhor, e sabes que estou vivo

porque ofereço as minhas costas brancas
-- beijo que espalmas e eira que Tu espancas --
sòmente por amor, sem mais motivo. 
           
                                     (Entre Dois Anjos)

FERNANDO ECHEVARRIA


694 - «ELEVADOR DE SANTA JUSTA» - LISBOA

694

ELEVADOR DE SANTA JUSTA  -  LISBOA

sexta-feira, 3 de abril de 2015

693 - «INCORRUPTA E LIVRE» - MARIA AMÉLIA NETO

693

INCORRUPTA E LIVRE

Nem o declínio prematuro
Dos lírios do vale,
Nem a queixa pressentida
Das flautas ocultas,
Nem a marcha na estrada,
Onde poisou, hirto,
O pequeno corpo,
Nada  do que a fez germinar
Lhe prendeu os veios invisíveis.

Incorrupta e livre,
A amargura deixou
Os seus sinais translúcidos no portal,
E roçou, fluida,
Por todas as fronteiras estelares,
Tornando desumana a noite do poeta.

MARIA AMÉLIA NETO

quinta-feira, 2 de abril de 2015

692 - SEM TITULO


692

SEM TÍTULO

691 - «A VIAGEM» - MARIA AMÉLIA NETO

691

A VIAGEM

Acabo de chegar,
Irmão,
E vim de longe.

Vi rostos
Inclinados sobre a terra
E torpor do mundo
Num olhar,
Vi as pedras
Da estrada
Ensanguentadas
E o sol
Feito poeira
Sobre as pedras.
Vi a sombra
Da noite
A diluir-se
No frio da madrugada.

Agora
A morte caminha atr+as de mim,
Irmão,
E acabo de chegar.

MARIA AMÉLIA NETO»