725
DESCALÇA DE VIVER
Descalça de viver, andava sempre,
Enchia a rua quando não passava.
Mas se passava, desfazia o tempo
e apagava a rua, os homens e as lágrimas.
Nem ela própria já vivia dentro
de si. A roupa que levava
tinha uma cor de triste e pensamento
que não se sente e não se vê. E nada
dela se via que que não fosse um vento.
Nem um silvo ou perfume a denunciava.
Sabia-se, de certo, que vivia
porque o dia, a certas horas se quedava
pronto, parado, como não sendo dia.
Ela, descalça de viver, passava...
FERNANDO ECHEVARRIA