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TÉDIO
Não vivo, mal vegeto, duro apenas,
Vazio dos sentidos porque existo;
Não tenho infelizmente sequer penas
E o meu mal é ser (alheio Cristo)
Nestas horas doloridas e serenas
Completamente consciente disto.
Ó naus felizes, que do mar vago
Volveis enfim ao silêncio do porto
Depois de tanto nocturno mal --
Meu coração é um morto lago,
E é à margem triste do lago morto
Sonha um castelo medieval...
E nesse, onde sonha, castelo triste,
Nem sabe saber a, de formosas
Sem gesto ou cor, triste castelã
Que um porto além rumoroso existe,
Donde as naus negras e silenciosas
Se partem quando é no mar manhã...
Nem sequer sabe que há o, onde sonha,
Castelo triste... Seu ´spirito monge
Para nada externo é perto e real...
E enquanto ela assim se esquece, tristonha,
Regressam , velas no mar ao longe,
As naus ao porto medieval...
(10-6-1910)
FERNANDO PESSOA
Não vivo, mal vegeto, duro apenas,
Vazio dos sentidos porque existo;
Não tenho infelizmente sequer penas
E o meu mal é ser (alheio Cristo)
Nestas horas doloridas e serenas
Completamente consciente disto.
Ó naus felizes, que do mar vago
Volveis enfim ao silêncio do porto
Depois de tanto nocturno mal --
Meu coração é um morto lago,
E é à margem triste do lago morto
Sonha um castelo medieval...
E nesse, onde sonha, castelo triste,
Nem sabe saber a, de formosas
Sem gesto ou cor, triste castelã
Que um porto além rumoroso existe,
Donde as naus negras e silenciosas
Se partem quando é no mar manhã...
Nem sequer sabe que há o, onde sonha,
Castelo triste... Seu ´spirito monge
Para nada externo é perto e real...
E enquanto ela assim se esquece, tristonha,
Regressam , velas no mar ao longe,
As naus ao porto medieval...
(10-6-1910)
FERNANDO PESSOA
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