sábado, 28 de junho de 2014

466 - "UM FILME DO CÓMICO CHAPLIN" - BERTOLT BRECHT

466

UM FILME DO CÓMICO CHAPLIN

A um café do Boulebard S. Michel
Chegou um jovem pintor numa chuvosa tarde  de Outono.
Bebeu quatro ou cinco cálices de um licor esverdeado
E pôs-se a contar aos ociosos  jogadores de bilhar o encontro                                                                                            comovido
Com uma amada de outrora, muito meiga mulher
No momento casada com um rico carniceiro.
«Meus senhores, suplicou, dêem-me depressa, por favor,
O giz que colocam na ponta do dos tacos» Depois, de joelhos,
Tentou com a mão trémula  fazer o retrato
Da amada dos dias idos. Mas logo desesperado
Apagou o que fizera, começou de novo,
E de novo parou, e outros traços traçou
Enquanto repetia: «Ainda ontem o sabia».
Clientes  tropeçaram, resmungando, nele. O gerente, furioso,
Pegou-o pela gola do casaco e pô-lo no olho da rua. Já no passeio,
Ele abanava a cabeça e ainda perseguia com o giz
Os traços fugitivos.

BERTOLT BRECHT

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