quinta-feira, 24 de julho de 2014

491 - «SONETO» MANUEL ALEGRE

491

Soneto 


É preciso saber por que se é triste
é preciso dizer esta tristeza
que nós calamos tantas vezes mas existe
tão inútil em nós tão portuguesa.

É preciso dizê-la é preciso despi-la
é preciso matá-la perguntando
porquê esta tristeza como e quando
e porquê tão submissa tão tranquila.

Esta tristeza que nos prende em sua teia
esta tristeza aranha esta negra tristeza
que não nos mata nem nos incendeia

antes em nós semeia esta vileza 
e envenena ao nascer qualquer ideia.
É preciso matar esta tristeza.

Manuel Alegre, Praça da Canção, 1965

quarta-feira, 23 de julho de 2014

490 - «ELOGIO DA DIALÉTICA» - BERTOLT BRECHT

490

ELOGIO DA DIALÉTICA

A injustiça avança hoje a passo firme
Os tiranos fazem planos para dez mil anos.
O poder apregoa:  as coisas continuarão a ser como são.
Nenhuma voz além da dos que mandam.
E em todos os mercados proclama a exploração: isto é apenas o
                                                                              meu começo.
Mas entre os oprimidos muitos há que agora dizem:
Aquilo que nós queremos nunca mais o alcançaremos.

Quem ainda está vivo nunca diga nunca.
O que é seguro não é seguro.
As coisas não continuarão a ser como são.
Depois de falarem os dominantes
Falarão os dominados,
Quem pois ousa dizer: nunca?
De quem depende que a opressão prossiga? De nós.
O que é esmagado, que se levante!
O que está perdido, lute!
O que sabe ao que se chegou, que há aí que o retenha?
Por vezes os vencidos de hoje são os vencedores de amanhã.
E nunca será: ainda hoje.


BERTOLT BRECHT

489 - FOTOS WEB

489

FOTOS WEB

segunda-feira, 21 de julho de 2014

488 - «LÁZARO» - ALEXANDRE PINHEIRO TORRES

488

LÁZARO

Quando ressurgiste, a Vida e o Sol te odiaram.

Trazias no rosto, torturado e atónito,
as rugas que Cristo e o Amor não apagaram,
e, na boca, a espuma musguenta dum vómito.

Caíras, já podre, na morte discreta,

roubado ao egoísmo seco em que viveras
odiando, deitado, as vitórias do Poeta,
seu gosto fraterno que nunca quizeras.

Um grito chamou-te das trevas e cactos

que lentos corroíam teu corpo burgês,
grito restituindo esquecidos contactos,
consciente surpresa de seres outra vez.

Mas tua volta era inútil e risível

(barco naufragado ao conforto do porto):
já teu corpo em vida fora corruptível
e alma, sem asas, um pássaro morto.

ALEXANDRE PINHEIRO TORRES

domingo, 20 de julho de 2014

487 - «20 DE JULHO DE 1969» - IDA À lUA

487


Astronomia

Compartilhada publicamente  -  18:49
 #Lua
FAZ HOJE 45 ANOS DO POUSO DA APOLLO 11 NA LUA!

Dia 20 de julho de 1969, Neil Armstrong diz a célebre frase quando pisa em solo lunar, "Este é um pequeno passo para um homem, mas um salto gigantesco para a humanidade". Lançados pelo foguete Saturno V, Neil Armstrong, Edwin Aldrin (apelidado de Buzz Aldrin) e Michael Collins, foram numa viagem de 3 dias da Terra até pousarem na Lua.

Aldrin juntou-se a Armstrong na superfície quinze minutos depois do pouso, era programado para 5 horas de descanso antes de sair do módulo, porém a ansiedade dos astronautas, da mídia e o resto do planeta eram bem maiores, e durante as próximas duas horas e quarenta minutos, os astronautas examinaram o Módulo Lunar, montaram e colocaram em funcionamento a câmara de TV, hastearam e prestaram continência à bandeira americana (os dois eram oficiais da Força Aérea) instalaram instrumentos científicos, deram saltos como cangurus experimentando a baixa gravidade lunar, tiraram cerca de 100 fotografias, recolheram mais amostras no solo e falaram ao vivo com o Presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, acompanhados pelos olhos e ouvidos de milhões de pessoas em todo o planeta, que assistiam a tudo pela televisão.

No link, pode-se ver a filmagem logo após o pousohttp://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/a5/A11v_1094228.ogg


mais (22 linhas)

sábado, 19 de julho de 2014

486 - «PEQUENINA» ANTERO DE QUENTAL

486

PEQUENINA

Eu bem sei que te chamam pequnina
É ténue como o veú solto na dança,
Que és no juízo apenas a criança,
Pouco mais, nos vestidos, que a menina ...

Que és o regato de água mansa e fina,
A folhinha do til que se balança,
O peito que em correndo logo cansa,
A fronte que ao sofrer logo se inclina ...

Mas, filha, lá nos montes onde andei,
Tanto me enchi de angústia e de receio
Ouvindo do infinito os fundos ecos,

Que não quero imperar nem já ser rei
Senão tendo meus reinos em teu seio
E súbditos, criança, em teus bonecos!

ANTERO DE QUENTAL

quinta-feira, 17 de julho de 2014

485 - FOTOS WEB

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484 «E.P. ESCOLHA DA PEDRA TUMILAR« BERTOLT BRECHT

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E.P. ESCOLHA DA PEDRA TUMULAR

Fabricar fósseis é
Tarefa fatigante
E dispendiosa. Cidades inteiras
Devem ser destruidas
E nalguns casos em vão
-- se a mosca ou o feto
Foram mal colocadas. Ainda por cima a pedra
Das nossas cidades não é sólida
Pelo que nem os fósseis
Estarão seguros

BERTOLT BRECHT

segunda-feira, 14 de julho de 2014

482 - «O EVANGELHO SEGUNDO JOÃO

482
O EVANGELHO SEGUNDO JOÃO
FILME BÍBLICO COMPLETO



481 Praia do Meco - Sesimbra (Portugal). –

481

Praia do Meco - Sesimbra (Portugal).

Devido à proximidade da Aldeia do Meco, um povoado de agricultores e pescadores situado entre a Lagoa de Albufeira e o Cabo Espichel, na costa ocidental do concelho de Sesimbra, na década de 70, o extenso areal da praia do Moinho de Baixo começou a ser conhecido por Praia do Meco. Foi com esta designação que se destacou nacional e internacionalmente devido, sobretudo, a ter sido uma das primeiras praias naturistas do país, prática que ainda hoje se mantem, mas um pouco mais a sul, no Rio da Prata.
Com o passar do tempo, a praia foi considerada a "Meca do Naturismo" e passou a integrar a lista oficial de praias naturistas de Portugal. Hoje, embora continue a ser uma referência, esta prática está mais confinada à zona do Rio da Prata, a sul, numa zona de escarpas e de acessos difíceis por terra.
Apesar de não se conhecerem, ao certo, os motivos que levaram os adeptos do naturismo a escolhê-la, admite-se que a arriba de argila, que muitos acreditam possuir propriedades curativas, tenha tido influência.
O Meco destaca-se por integrar o Sítio da Rede Natura 2000 Arrábida/Espichel, graças a um conjunto de valores ambientais que o caraterizam, dos quais se destacam o extenso cordão dunar, as nascentes, os ribeiros que desaguam no areal ou as arribas, que que documentam as várias idades da Terra.
O seu mar pode ser agreste, mas na época de verão é, normalmente, ameno. A ondulação forte tornou-o uma referência, sobretudo para a comunidade ligada ao surf e bodyboard. Também ligada ao mar está uma das tradições mais enraizadas na população local, e imagem de marca do Meco: a Arte Xávega, um tipo de pesca de arrasto feita a partir do areal por alguns habitantes que, por algumas horas, trocam a vida do campo por uma atividade que complementa os seus rendimentos e garante peixe fresco quase todos os dias.
A atividade faz-se desde longa data com a ajuda dos tratores, utilizados não apenas para transportar e retirar os barcos da água, mas também para ajudar os pescadores a puxar as redes do mar.
[Origem: 7 Maravilhas – As Praias de Portugal].

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domingo, 13 de julho de 2014

480 - »A LIÇÃO DO JARDINEIRO» -- BERTOLT BRECHT

480

A LIÇÃO DO JARDINHEIRO

Pequeno reino de sebes e canteiros,
O meu jardim me ensina
Que até a rosa nobre de Mileto
Tem de, para ser bela, ser podada.
Também ela deve compreender
Que a couve, o alho e outros legumes
De origem modesta, mas não menos úteis,
Têm, como ela, direito
À sua ração de água.
O jardim seria mato
Se só na rosa imperial pensássemos.

BERTOLT BRECHT

sábado, 12 de julho de 2014

479 -- FOTOS WEB

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478 - «NA MÃO DE DEUS» ANTERO DE QUENTAL

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    NA MÃO DE DEUS

Na mão de Deus, na sua mão direita,

Descançou afinal meu coração.
Do palácio encantado da Ilusão
Desci a passo e passo a escada estreita.

Como as flores mortais, com que se enfeita

A ignorância infantil, despojo vão,
Depus do Ideal e da Paixão
A forma transitória e imperfeita.

Como criança, em lôbreja jornada,

Que a mãe leva no colo agasalhada
E atravessa, sorrindo, vagamente,

Selvas, mares, areis do deserto...

Dorme o teu sono, coração liberto,
Dorme na mão de Deus eternamente!

ANTERO DE QUENTAL


quinta-feira, 10 de julho de 2014

477- «IGLOTO DEO» - ANTERO DE QUENTAL

477

«IGLOTO DEO»

Que beleza mortal se te assemelha.
Ó sonhada visâo desta alma ardente.
Que reflectes em mim teu brilho ingente,
Lá como sobre o mar o sol se espelha?

O mundo é grande -- e esta ânsia me aconcelha
A buscar-te na Terra: e eu, pobre crente,
Pelo mundo procuro um Deus clemente,
Mas a ara só lhe encontro... nua e velha...

Não é mortal o que eu em ti adoro.
 Que és tu aqui? olhar de piedade,
Gota de mel em taça de venenos...

Pura essência das lágrimas que choro
E sonho dos meus sonhos! se és verdade,
Descobre-te, visão, no Céu ao menos!

ANTERO DE QUENTAL

terça-feira, 8 de julho de 2014

475 - «A MINHA MUSA» - TEIXEIRA DE PASCOAES

475

   A MINHA MUSA

Senhora da manhã vitoriosa

E também do crepúsculo vencido.
Ó senhora da noite misteriosa,
Por quem ando, nas trevas, confundido.

Perfil de luz Imagem religiosa!

Ó dor e amor! Ó sol e luar dorido!
Corpo, que é alma escrava e dolorosa,
Alma, que é corpo livre e redemido.

Mulher perfeita em sonho e realidade.

Aparição Divina da Saudade...
Ó Eva, toda em flor e deslumbrada!

Casamento da lágrima e do riso;

O céu e a terra, o inferno e o paraíso
Beijo rezado e oração beijada.

TEIXEIRA DE PASCOAES

segunda-feira, 7 de julho de 2014

474 - "POEMA DO LIVRE ARBÍTRIO - ANTÓNIO GEDEÃO

474

Poema do livre arbítrio

Há uma fatalidade intrínsica, insofismável.
inerente a todas as coisas e nelas incrustrada.
Uma fatalidade que não se pode ludribriar,
nem peitar, nem desvirtuar,
nem entreter, nem comover,
nem iludir, nem impedir,
uma fatalidade fatalmente fatal,
uma fatalidade que só poderia deixar de o ser
para ser fatalidade de outra maneira qualquer,
igualmente fatal,

Eu sei que posso escolher entre o bem e o mal.
já sei que escolho fatalmente o bem.
Porque escolher o bem é escolher fatalmente o bem.
Como escolher o mal é escolher fatalmente o mal
O meu livre arbítrio
conduz-me fatalmente a uma escolha fatal.

ANTÓNIO GEDEÃO

domingo, 6 de julho de 2014

473 - "FOI EM CRETA" - NATÁLIA CORREIA

473
«FOI EM CRETA...»

Foi em Creta   No azul fêmea do Egeu
as naves embalavas é sopro de Anaíta!
Tua pele esticada era o tambor da noite
cada homem era o dom de ouvir  a tua cítara.

Comovidas pulseiras tangias nos teus braços
piedosas avelãs escorriam dos teus cílios
aravam tua terra mamíferos afagos
cada homem era um príncipe no teu campo de lírios

Teu levantar de saias ó resplendor  de púbis!
o joelho agressivo das espadas flectia
e na face dos homens deixagas e penugem
das nuvens aniladas que nas ancas movias

Eras mansa eras dança e génio de balança
que as estações pesava    Fazias sol chovias
cda homem enchia  com frutos o seu crânio
e na alma caíam  as roupas que despias

Eras mãe  eras virgem eras cabra na cama
o vento que as mulheres menstruadas faziam
eras tanta eras santa  e a catedral de açucar
que as pernas das amadas naturalmente abriam

Foi em Creta que as têmperas da Europa
premeditou no húmus do seu ventre dançante
Cada homem era a cauda  torrencial do filho
bebida pela boca dourada do amante

                                        (Mátria)
NATÁLIA CORREIA

sábado, 5 de julho de 2014

472 - "VOZ NUMA PEDRA" - MÁRIO CESARINY DE VASCONCELOS

472

VOZ NUMA PEDRA

Não adoro o passado 
não sou três vezes mestre
não combinei nada com as furnas
não é para isso que eu cá ando
decerto vi Osíres porém chamava-se nessa altura Luís
decerto fui com Isis mas disse-lhe eu que me chamava João
nenhuma nenhuma palavra está completa
nem mesmo em alemão que as tem tão grandes
assim também eu nunca te direi o que sei
a não ser pelo arco em flecha negro e azul do vento
Não digo como o outro: sei que não sei nada
sei muio bem que soube  sempre umas coisas
que isso pesa
que lanço os turbilhões e vejo o arco-íres
acreditando ser ele  o agente supremo
do coração do mundo
vaso de liberdade expurgada do mênstruo
rosa viva diante dos nossos olhos

Ainda longe longe essa cidade futura
onde «a poesia não mais ritmará  a acção
porque caminhará adiante dela»
Os pregadores de morte  vão acabar?
A tortura dos olhos vai acabar?
Passa-me então aquele canivete
porque há imenso que começar a podar 
passa não me olhes como se olha um bruxo
detentor do milagre da verdade
a machadada e o propósito de não sacrificar-me não
                          [construirão ao sol coisa nenhuma
nada está escrito afinal.
                                       (Planisfério)

MÁRIO CESARINY DE VASCONCELOS

sexta-feira, 4 de julho de 2014

471 "O ANIMAL PREFERIDO PELO SENHOR KEUNER" - BERTOLT BRECHT

471

O ANIMAL PREFERIDO PELO SENHOR KEUNER

Quando perguntaram ao senhor Keuner
Qual era o animal que ele mais apreciava
Ele apontou o elefante e deu a seguinte razão:
O elefante alia a manha à força.
Não se trata da pobre manha suficiente
Para escapar a uma armadilha, ou subtraír
Sem dar nas vistas algo que comer, mas da manha
Que da força dispõe
Para grandes empresas. Larga é a pista
Que leva aos lugares por onde este animal passou. E todavia
Ele mantém a sua naturalidade, compreende os gracejos,
É tão bom amigo como bom inimigo. Muito grande, muito pesado,
Mas também muito rápido. A sua tromba introduz
Num corpo enormr os mais pequenos alimentos,
Inclusive as nozes. As suas orelhas móveis:
Só houve o que lhe convém.
Também vive por muitos e muitos anos. É sempre sociável
E não só com os elefantes. Por toda a gente é amado
Tanto como temido.
Não deixa de ter graça
Que ele chegue mesmo a ser venerado.
Tem a pele espessa. Nela
Se quebram facas. Mas o seu coração é meigo.
Pode entristecer-se.
Pode encolerizar-se.
Gosta de dançar. Morre onde o bosque é mais espesso.
Gosta das crianças e de outros pequenos animais.
Tem a cor parda e só chama a atenção pela sua massa.
Não é bom para comer
Pode trabalhar, e bem. Gosta de beber e fica alegre.
Faz qualquer coisa pela arte: fornece o marfim.

BERTOLT  BRECHT

quarta-feira, 2 de julho de 2014

469 - "ESTE HOMEM SABIA ELABORAR UM PLANO E CAÍU" - BERTOLT BRECHT

469

ESTE HOMEM SABIA ELABORAR UM
PLANO E CAÍU ...

Este homem sabia elaborar um plano , e caíu. Estoutro
Mostrou coragem, e caiu. Quanto a nós, congratulamo-nos
Com o plano e com a coragem, e choramos.


Alegrámo-nos por que eles se batiam
E chorámos por que eles  cairam e não
Por eles se bateram.
Ah, nem todo o homem que regressa a sua casa é um vencedor
Mas não há vencedor que não regresse a casa.

BERTOLT BRECHT

terça-feira, 1 de julho de 2014

468 - "E.P. ESCOLHA DA PEDRA TUMULAR - BERTOLT BRECHT

468

E.P. ESCOLHA DA PEDRA TUMULAR

Fabricar fósseis é

Tarefa fatigante
E dispendiosa. Cidades inteiras
Devem ser destruídas
E nalguns casos em vão
-- Se mosca ou o feto
Foram mal colocadas. Ainda por cima a pedra
Das nossas cidades não é sólida
Pelo que nem os fósseis
Estarão seguros.

BERTROLT BRECHT