488
LÁZARO
Quando ressurgiste, a Vida e o Sol te odiaram.
Trazias no rosto, torturado e atónito,
as rugas que Cristo e o Amor não apagaram,
e, na boca, a espuma musguenta dum vómito.
Caíras, já podre, na morte discreta,
roubado ao egoísmo seco em que viveras
odiando, deitado, as vitórias do Poeta,
seu gosto fraterno que nunca quizeras.
Um grito chamou-te das trevas e cactos
que lentos corroíam teu corpo burgês,
grito restituindo esquecidos contactos,
consciente surpresa de seres outra vez.
Mas tua volta era inútil e risível
(barco naufragado ao conforto do porto):
já teu corpo em vida fora corruptível
e alma, sem asas, um pássaro morto.
ALEXANDRE PINHEIRO TORRES
LÁZARO
Quando ressurgiste, a Vida e o Sol te odiaram.
Trazias no rosto, torturado e atónito,
as rugas que Cristo e o Amor não apagaram,
e, na boca, a espuma musguenta dum vómito.
Caíras, já podre, na morte discreta,
roubado ao egoísmo seco em que viveras
odiando, deitado, as vitórias do Poeta,
seu gosto fraterno que nunca quizeras.
Um grito chamou-te das trevas e cactos
que lentos corroíam teu corpo burgês,
grito restituindo esquecidos contactos,
consciente surpresa de seres outra vez.
Mas tua volta era inútil e risível
(barco naufragado ao conforto do porto):
já teu corpo em vida fora corruptível
e alma, sem asas, um pássaro morto.
ALEXANDRE PINHEIRO TORRES
Sem comentários:
Enviar um comentário