639
HOMENAGEM A PIERO DELLA FRANCESCA
I
Sinto de repente tudo nu.
É como se o silêncio se partisse
em estátua poderosas e sem sombra
ecoando a longa história, interrompida
por nós e pelo mundo.
II
Intacta - só a voz. O corpo é outro.
O corpo muda sempre, como os dias.
Só o sol é fixo, embora tudo
sustente tudo.
III
Um silêncio,
uma incidência súbita da luz,
um movimento misteriosamente
nascido do corpo adormecido,
acordam de repente a voz do tempo --
o abismo de música e de morte
que me faz sentir total a voz dos deuses,
e a sua febre, que é este mundo.
IV
Não prendes sem dor mortal
o voo largo do mundo.
Teu silêncio repercute.
Tuas mãos tocaram tudo.
V
A neve é perfeita -- como a morte
fala pelos lábios daqueles que escolheu,
até os anjos dizerem as manhãs
VI
Quem me destruiu dando-me ao tempo
que venha buscar-me e me devolva
aonde se cumpria
inteiro, o meu destino
VII
A beleza mergulha as raizes noutra noite
que se desprende intacta doutro dia
ALBERTO DE LACERDA
HOMENAGEM A PIERO DELLA FRANCESCA
I
Sinto de repente tudo nu.
É como se o silêncio se partisse
em estátua poderosas e sem sombra
ecoando a longa história, interrompida
por nós e pelo mundo.
II
Intacta - só a voz. O corpo é outro.
O corpo muda sempre, como os dias.
Só o sol é fixo, embora tudo
sustente tudo.
III
Um silêncio,
uma incidência súbita da luz,
um movimento misteriosamente
nascido do corpo adormecido,
acordam de repente a voz do tempo --
o abismo de música e de morte
que me faz sentir total a voz dos deuses,
e a sua febre, que é este mundo.
IV
Não prendes sem dor mortal
o voo largo do mundo.
Teu silêncio repercute.
Tuas mãos tocaram tudo.
V
A neve é perfeita -- como a morte
fala pelos lábios daqueles que escolheu,
até os anjos dizerem as manhãs
VI
Quem me destruiu dando-me ao tempo
que venha buscar-me e me devolva
aonde se cumpria
inteiro, o meu destino
VII
A beleza mergulha as raizes noutra noite
que se desprende intacta doutro dia
ALBERTO DE LACERDA
Sem comentários:
Enviar um comentário