segunda-feira, 18 de maio de 2015

718 - «SONETO DE GELO» - CAMILO PESSANHA

718

SONETO DE GELO

Ingénuo sonhador -- as crenças d´oiro
Não a verás derruir... Deixa o destino
Levar-te no teu berço de bambino,
Porque podes perder esse tesoiro

Tens na crença um farol. Nem o procuras,
Mas bem o vês luzir sobre o infinito!...
E o homem que pensou -- foi precito,
Buscando a luz em vão -- sempre às escuras.

Eu mesmo quero a fé, e não a tenho...
--  Um resto de batel -- quisera um lenho,
Para não afundir, na treva imensa.

O Deus, o mesmo Deus que te fez crente...
Nem saibas que esse Deus omnipotente
Foi quem arrebatou a minha crença.

CAMILO PESSANHA


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