segunda-feira, 29 de setembro de 2014

554 - «CITAÇÃO» - BERTOLT BRECHT

554

CITAÇÃO

Assim falou o poeta Kin:
Como escrever obras imortais, se não sou célebre?
Como responder, se ninguém me interroga?
Porque perder tempo com versos que o tempo perde?
Escrevo as minhas propostas em forma duradoura
Com medo que muito tempo corra sem que elas se cumpram.
Para atingir o que é grande há que passar por grandes                                                                                               transformações.
E as pequenas transformações são inimigas das grandes                                                                                             transformações
Tenho inimigos. Logo devo ser célebre.


BERTOLT  BRECHT


domingo, 28 de setembro de 2014

553 - «A NATUREZA É ASSIM»

553

A natureza reservou para si tanta liberdade que não a podemos nunca penetrar completamente com o nosso saber e a nossa ciência

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

552 - RIO PAIVA - ALVARENGA PORTUGAL

552

Está classificado como Sítio de Importância Comunitária na 

Rede Natura 2000.


Wikipédia.




"Rio Paiva em Alvarenga". Licenciado sob Creative 

Commons Attribution 2.0, via Wikimedia Commons -

http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Rio_Paiva_em_Alvare

nga.jpg#mediaviewer/File:Rio_Paiva_em_Alvarenga.jpg

ALVARENGA É UMA FREGUESIA DO CONCELHO DE 

AROUCA E ESTA É A NASCENTE

DO RIO PAIVA







551 - PRAIA DE DONA ANA - LAGOS PORTUGAL

551

PRAIA DE DONA ANA - LAGOS PORTUGAL

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

549 -- «A METAMORFOSE DOS DEUSES» - BERTOLT BRECHT

549

A METAMORFOSE DOS DEUSES

Os antigos deuses pagãos -- isto é segredo --
Foram os primeiros cristãos convertidos
Iam através dos bosques  de carvalhos pardos, ao encontro das
                                                                                    multidões,
Resmungando orações populares e fazendo o sinal da cruz.

Ao longo de toda a Idade Média
Instalavam-se como que distraídos nos nichos  das casas de Deus
De todas as populações necessitadas de figuras divinas.

E no tempo da Revolução Francesa
Foram os primeiros a usar as máscaras douradas da razão pura:
Soberanos conceitos,
Pairavam, velhos sugadores de sangue  e falsificadores de ideias,
Sobre o dorso curvado da multidão trabalhadora.

BERTOLT BRECHT


sexta-feira, 19 de setembro de 2014

547 - »A QUEDA» MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO

547

      A QUEDA

E eu que sou o rei de toda esta incoerência,
Eu próprio turbilhão, anseio por fixa-la
E giro até partir ... Mas tudo me resvala
Em bruma e sonolência.

Se acaso em minhas mãos fica um pedaço  d´ouro,
Volve-se logo falso... ao longe o arremeço ...
Eu morro de desdém  em frente, dum tesouro,
Morro à mingua, de excesso.

Alteio-me na cor à força de quebranto,
Estendo os braços d´alma  -- e nem um espasmo venço!...
Peneiro-me na sombra  -- em nada me condenso...
Agonias de luz eu vibro ainda entanto.

Não me pude vencer, mas posso-me esmagar,
--  Vencer às vezes é o mesmo que tombar  --
E como ainda sou luz, num grande retrocesso,
Em raivas ideais, ascendo até ao fim:
Olho do alto o gelo, ao gelo me arremesso...

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Tombei

         E fico só esmagado sobre mim!...

                                                    Paris  1913 -- Maio 8.

MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

544 - «CODA» - EUGÉNIO DE ANDRADE

544

CODA

Quando o ser luz for
  o ser da palavra,
  no seu centro arder
a subir com a chama
    (ou baixar àgua),
  então estarei em casa.

EUGÉNIO DE ANDRADE

terça-feira, 16 de setembro de 2014

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

542 - «UM CAMINHO DE PALAVRAS» - ANTÓNIO RAMOS ROSA

542

UM CAMINHO DE PALAVRAS

     Sem dizer o fogo -- vou para ele. Sem enunciar as pedras,
sei que as piso  -- duramente, são pedras e não são ervas.
O vento é fresco: sei que é vento, mas sabe-me a fresco ao
mesmo tempo que é vento. Tudo o que sei, já lá está, mas
não estão os meus passos nem os meus braços. Por isso cami-
nho, caminho, porque há um intervalo entre tudo e eu, e
nesse intervalo caminho e descubro o meu caminho.

       Mas entre mim e os meus passos há um intervalo tam-
bém: então invento os meus passos e o meu próprio caminho.
E com as palavras de vento e de pedras, invento o vento e as
pedras, caminho um caminho de palavras.

                             Caminho um caminho de palavras
                             (porque me deram o sol)
                             e por esse caminho me ligo ao sol
                             e pelo sol me ligo a mim

                             E porque a noite não tem limites
                             alargo o dia e faço-me dia
                             e faço-me sol porque o sol existe
                             
                             Mas a noite existe
                             e a palavra sabe-o

ANTÓNIO RAMOS ROSA

domingo, 14 de setembro de 2014

541 - «EDGAR ALLAN POE» - CARLOS DE OLIVEIRA

541

EDGAR ALLAN POE

  O inverno em Boston foi breve. Ele bebia.
Sílabas abriam-se uma a uma pelos cantos do
quarto. Gotas de álcool. Quem se lembra da
chuva caída no seu nome?
    Folheou toda a noite os livros ancestrais e
encontrou qualquer coisa, ninguém sabe o quê,
talvez o retrato de Annabel Lee. Esboçou-o na vi-
draça carregada de sombra e o quarto amanheceu.
      «Mas isso pouco vale (diz a magia negra), o
filtro apenas decompôs mais cedo o horror em
luz, não alterou a solidão dos dias, que a noite
separa uns dos outros para sempre.

CARLOS DE OLIVEIRA

540 - «UM GRÃO DE INCENSO» AUGUSTO GIL

540

UM GRÃO DE INCENSO


Entraste com ar cansado
Numa igreja fria e triste.
Ajoelhei-me ao teu lado
-- E nem ao menos me viste...

Ficaste a rezar ali,
Naquela imensa tristeza.
Rezei também, mas a ti,
-- Que aos anjos também se reza...

Ficaste a rezar até
Manhã dentro, manhã alta.
Como é que tens tanta fé
-- E a caridade te falta ?...

AUGUSTO GIL


quinta-feira, 11 de setembro de 2014

538 - «NUMA DESPEDIDA» CAMILO PESSANHA

538

NUMA DESPEDIDA

A boémia não morreu.
Eis-nos com cabelos brancos;
E, todavia, os barrancos

Do seu destino,  e do meu,

Se nos quebraram as pernas,
As asas não as partiram.
Em altos sonhos deliram
As nossas almas eternas!

Depois de tantos baldões,
Deveras ter-se ido a fé:
Temos tido pontapé
Das mais caras ilusões...

E não morre a mocidade!
Após enganos, enganos...
Pois só daqui a cem anos
Choraremos de saudade?

CAMILO PESSANHA

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

537 - «PONTE SHINKYO» - JAPÃO

537

Que tal fazer um passeio pela cidade de Nikko, no Japão, 
e tirar uma foto na belíssima ponte Shinkyo?

terça-feira, 9 de setembro de 2014

536 - «NESTES ÚLTIMOS TEMPOS» SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN

536

Nestes últimos tempos

Nestes últimos tempos é certo a esquerda fez erros
Caíu em desmandos confusões praticou injustiças

Mas que diremos da longa tenebrosa e perita
Degradação das coisas que a direita pratica?

Que diremos do lixo do seu luxo  -- de seu
Viscoso gozo da nata da vida -- que diremos
De sua feroz ganância e fria possessão?

Que diremos de sua sábia e tácita injustiça
Que diremos de seus conluios e negócios
E do utilitário uso dos seus ócios?

Que diremos de suas máscaras alibis e pretextos
De suas fintas labirintios e contextos?

Nestes últimos tempos é certo a esquerda muita vez
Desfigurou as linhas do seu rosto

Mas que diremos da meticulosa eficaz expedita
Degradação da vida que a direita pratica?

                                        Julho de 1976

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

533 - «O QUE UMA CRIANÇA TEM DE GRAMAR» - BERTOLT BRECHT

533

O QUE UMA CRIANÇA TEM DE GRAMAR

Os olhos de Deus vêem todas as vias
Faz as tuas economias para o pior dos dias
O mandrião nada de bom deixa em herança
Muito ler os olhos cansa
Carregar carvão desenvolve a musculatura
O  belo tempo da infância que tão pouco dura
Não te rias dos enfermos
Com os adultos não se discute e têm-se termos
Quando à mesa te fores sentar nunca te sirvas em primeiro lugar
Passear ao domingo é muito salutar
Um velho respeito merece
Não é com bombons que um menino cresce
Mais são do que as batatas nâo há nada
Criança educada deve saber estar calada.

BERTOLT BRECHT

532 - «PRESO ENTRE O SONO E O SONHO« - ANA MOURA

532

ANA MOURA -  FADO  "PRESO ENTRE O SONO E O  SONHO"


531 - «CLUBE DE FADO« - LISBOA

531

530 - «ÁGUA MORRENTE» CAMILO PESSANHA

530

ÁGUA MORRENTE

                          Il pleure dans mon coeur
                          Comme il pleut sur la ville.
                                             VERLAINE

Meus olhos apagados,
Vede a água cair.
Das beiras dos telhados.
Caír, sempre cair.

Das beiras dos telhados,
Cair, quase morrer...
Meus olhos apagados,
E cansados de ver.

Meus olhos, afogai-vos
Na vã tristeza ambiente.
Caí e derramai-vos
Como a água corrente.



CAMILO PESSANHA

terça-feira, 2 de setembro de 2014

527 - SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN

527

SERÁ  POSSÍVEL

Será possível que nada se cumprisse?
Que o roseiral a brisa as folhas de hera
Fossem como palavras sem sentido
--  Que nada sejam senão seu rosto ido
Sem regresso nem resposta -- só perdido


»À MANEIRA DE ...»

Sintese a linha clara -- em seu
Horizonte de luz desfere. Opaca (ela)
De nós se nutre como lume aceso

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN