542
UM CAMINHO DE PALAVRAS
Sem dizer o fogo -- vou para ele. Sem enunciar as pedras,
sei que as piso -- duramente, são pedras e não são ervas.
O vento é fresco: sei que é vento, mas sabe-me a fresco ao
mesmo tempo que é vento. Tudo o que sei, já lá está, mas
não estão os meus passos nem os meus braços. Por isso cami-
nho, caminho, porque há um intervalo entre tudo e eu, e
nesse intervalo caminho e descubro o meu caminho.
Mas entre mim e os meus passos há um intervalo tam-
bém: então invento os meus passos e o meu próprio caminho.
E com as palavras de vento e de pedras, invento o vento e as
pedras, caminho um caminho de palavras.
Caminho um caminho de palavras
(porque me deram o sol)
e por esse caminho me ligo ao sol
e pelo sol me ligo a mim
E porque a noite não tem limites
alargo o dia e faço-me dia
e faço-me sol porque o sol existe
Mas a noite existe
e a palavra sabe-o
ANTÓNIO RAMOS ROSA
UM CAMINHO DE PALAVRAS
Sem dizer o fogo -- vou para ele. Sem enunciar as pedras,
sei que as piso -- duramente, são pedras e não são ervas.
O vento é fresco: sei que é vento, mas sabe-me a fresco ao
mesmo tempo que é vento. Tudo o que sei, já lá está, mas
não estão os meus passos nem os meus braços. Por isso cami-
nho, caminho, porque há um intervalo entre tudo e eu, e
nesse intervalo caminho e descubro o meu caminho.
Mas entre mim e os meus passos há um intervalo tam-
bém: então invento os meus passos e o meu próprio caminho.
E com as palavras de vento e de pedras, invento o vento e as
pedras, caminho um caminho de palavras.
Caminho um caminho de palavras
(porque me deram o sol)
e por esse caminho me ligo ao sol
e pelo sol me ligo a mim
E porque a noite não tem limites
alargo o dia e faço-me dia
e faço-me sol porque o sol existe
Mas a noite existe
e a palavra sabe-o
ANTÓNIO RAMOS ROSA
Sem comentários:
Enviar um comentário