quinta-feira, 11 de setembro de 2014

538 - «NUMA DESPEDIDA» CAMILO PESSANHA

538

NUMA DESPEDIDA

A boémia não morreu.
Eis-nos com cabelos brancos;
E, todavia, os barrancos

Do seu destino,  e do meu,

Se nos quebraram as pernas,
As asas não as partiram.
Em altos sonhos deliram
As nossas almas eternas!

Depois de tantos baldões,
Deveras ter-se ido a fé:
Temos tido pontapé
Das mais caras ilusões...

E não morre a mocidade!
Após enganos, enganos...
Pois só daqui a cem anos
Choraremos de saudade?

CAMILO PESSANHA

Sem comentários:

Enviar um comentário