segunda-feira, 20 de outubro de 2014

575 - «A GRUTA» DAVID MOURÃO-FERREIRA

575

       A  GRUTA

Consultei as estrelas e as vísceras das aves
Decifrei nos meus tectos o alfabeto do tempo

Sei que não há remédio para este desastre
Sei que morro de sede     Sei que nunca me prendo

Vi morrer o iate no meio da regata
Dei abrigo aos abutres que fugiam do vento
E é da cor dos teus olhos a areia molhada
à entrada da gruta ressequida por dentro

Tudo isto se passa no país dos Feácios
Ou à luz dos teus ombros numa tarde cinzenta

Sei que morro de sede mesmo que não te afastes
Sei que não há remédio    Mas que valeu a pena

DAVID MOURÃO-FERREIRA

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