domingo, 20 de dezembro de 2015

754 «TU ES A ESPERANÇS» EUGÉNIO DE ANDRADE

754

«TU ÉS A ESPERANÇA»

Tu és a esperança, a madrugada,
Nasceste nas tardes de setembro
quando a luz é perfeita e mais doirada,
e há uma fonte crescendo no silêncio
da boca mais sombria e mais fechada

Para ti criei palavras sem sentido,
inventei brumas, lagos densos,
e deixei no ar braços suspensos
ao encontro da luz que anda contigo.

Tu és a esperança onde deponho
meus versos que não podem ser nada.
Esperança minha onde meus olhos bevem,

fundo. como quem bebe a madrugada.

                                   (Antologia Breve)

EUGÉNIO DE ANDRADE



sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

753 - «PASSADO, PRESENTE, FUTURO» JOSÉ SARAMAGO

753

PASSADO, PRESENTE, FUTURO

Eu fui. Mas o que fui já não lembra:
Mil camadas de pó disfarçam (véus)
Os meus quarenta rostos desiguais,
Tão rasgados de tempo e macaréus.

Eu sou. Mas o que sou tão é:
Rã do charco  fugida que saltou,
E no salto que deu, como podia,
O ar dum outro mundo a rebentou.

Falta ver (ou não falta) o que serei:
Um rosto recomposto antes do fim,
Um canto de batráquio mesmo rouco,
Uma vida que corra assim-assim.

JOSÉ SARAMAGO

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

752 »ENCRUZILHADA DO SEM« SALETTE TAVARES

752

          ENCRUZILHADAS DE SEM


Sem pranto          sem campo          sem vento
sem foz                sem paz               sem luz
sem trégua           sem mágoa          sem água
sem voz               sem guerra           sem terra
sem cor               sem dor                sem flor
sem memória      sem grande           sem espera
sem canto           sem planta            sem rosa
sem glória           sem sangue           sem hera
de espanto          sem filho               sem brilho
não era               ficara                     morrera.
                           
                                           (Quadrada)

SALETTE  TAVARES

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

751 - foto "NOVA ZELANDIA"

751

NOVA  ZELANDIA

new zealand nature

750- "INTERVALO" FERNANDO PESSOA

750

INTERVALO 

Quem te disse ao ouvido esse segredo
Que raras deusas têm escutado -
Aquele amor cheio de crença e medo
Que é verdadeiro só que é segredado? ...
Quem to disse tão cedo?

Não fui eu, que te não ousei dizê-lo,
Não um outro, porque o não sabia.
Mas quem roçou da testa teu cabelo
E te disse ao ouvido o que sentia?
Seria alguém, seria?

Ou foi só que o sonhaste e eu te o sonhei?
Foi só qualquer ciúme meu de ti
Que o supôs dito, porque o não direi,
Que o supôs feito, porque o só fingi
Em sonhos que nem sei ?

Seja o que for, quem foi que  levemente,
A teu ouvido vagamente atento,
Te falou desse amor em mim presente
Mas que não passa do meu pensamento
Que anseia e que não sente ?


Foi um desejo que, sem corpo nem boca,
A teus ouvidos de eu sonhar-te disse

A frase eterna, imerecida e louca  --
A que as deusas esperam de ledisse
Com que o Olimpo se apouca. 1
                                                              1917(?)  

Publ. in Momento, nº.8, Lisboa, Abril de 1935

FERNANDO PESSOA

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

749-«TÉDIO» FERNANDO PESSOA

749

                   TÉDIO

Não vivo, mal vegeto, duro apenas,
Vazio dos sentidos porque existo;
Não tenho infelizmente sequer penas
E o meu mal é ser (alheio Cristo)
Nestas horas doloridas  e serenas
Completamente consciente disto.

Ó naus felizes, que do mar vago
Volveis enfim ao silêncio do porto
Depois de  tanto nocturno mal  --
Meu coração é um morto lago,
E é à margem  triste  do lago morto
Sonha um castelo medieval...

E nesse, onde sonha, castelo triste,
Nem sabe saber a, de formosas
Sem gesto ou cor, triste castelã
Que um porto além rumoroso existe,
Donde as naus negras e silenciosas
Se partem quando é no mar manhã...  

Nem sequer sabe que há o, onde sonha,
Castelo triste... Seu ´spirito monge
Para nada externo é perto e real...
E enquanto ela assim se esquece, tristonha,
Regressam , velas no mar ao longe,
As naus ao porto medieval...
                              
                                   (10-6-1910)

FERNANDO PESSOA



           

domingo, 11 de outubro de 2015

748 - «ABDICAÇÃO» FERNANDO PESSOA

748

      ABDICAÇÃO

Toma-me, ó noite eterna, nos teus braços
E chama-me teu filho.
                                     Eu sou um rei
Que voluntáriamente abandonei
O meu trono de sonhos e cansaços.


Minha espada, pesava a braços lassos,
Em mãos viris e calmas entreguei;
E meu ceptro e coroa -- eu os deixei
Na antecãmara, feita em pedaços.

Minha cota de malha, tão inútil,
Minhas esporas, de um tinir tão fútil
Deixei-as pela fria escadaria.

Despi a realeza, corpo e alma,
E regressei à noite antiga e calma
Como a paisagem ao morrer do dia.1

Ó sino da minha aldeia,
Dolente na tarde calma,
Cada tua badalada
Soa dentro da minha alma.

E é tão lento o teu soar,
Tão como triste da vida,
Que já a primeira pancada
Tem o som de repetida.

Por mais que me tanjas perto
Quando passo, sempre errante,
És para mim como um sonho,
Soas-me na alma distante.

A cada pancada tua,
Vibrante no céu aberto,
Sinto mais longe o passado
Sinto a saudade mais perto.2


-----------------
1  Publ. in Ressurreição, 9, Fevereiro de 1920
2  Publ. in Renascença, Lisboa, 1919


FERNANDO PESSOA

sábado, 10 de outubro de 2015

747 - «AQUELE QUE PROCUROU» ANA HATHERLY

747

«AQUELE QUE PROCUROU»

Aquele que procurou
E não encontrou,
É o homem desiludido.
Aquele que procura
E tudo encontra
E nada pode fazer do que achou,
É mais que infeliz:
Sabe a verdade.

ANA HATHERLY

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

746 - CHAFARIZ DAS PORTAS DE MOURA EM ÉVORA PORTUGAL

746

Sem a grandiosidade e impacto urbanístico da fonte da Praça do Giraldo, o Chafariz das Portas de Moura inaugurou uma tipologia maneirista de fontes na cidade de Évora, em que claramente o da Praça do Giraldo se filia, ao mesmo tempo que significou uma marca de poder e de progresso durante o governo do Cardeal junto à maior obra pública então em construção, o Aqueduto da Prata.
[Fonte: PAF, DGPC, IP]

terça-feira, 8 de setembro de 2015

744 - PRAIA DO FOLE E FOLE PEQUENO

744

PRAIA DO FOLE E FOLE PEQUENO - BRASIL

yara Sena
PROPRIETÁRIO

Sudeste  -  Ontem à(s) 21:24
Praia do Fole e Fole pequeno
Ilha do Cardoso - SP
Mais distantes, quase três horas a partir de Maruja,as caminhadas cortam um morro que separa Fole de Fole pequeno,
Ambas sai praticamente desertas e ficam entre imensos costoes ,com muitos rochedos ao redor. E são eles segundo contam, o barulho, que a água do mar faz ao bater nas pedras seria parecido com a de um fole. A Praia do Fole tem 700metros de extensão ,areia plana, escura e batida e menos de uma dúzia de casinhas de nativos, enquanto a de Fole pequeno tem apenas 350m,ambas, dão vista para a Ilha de Cambiru logo em frente.
Brasil 

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

domingo, 9 de agosto de 2015

736 - «OS RIOS» FERNANDO ECHEVARRIA

736

OS RIOS

Torrencial arquitectura
de silêncio. Desce o frio
terrível da formosura
as  tuas pernas. E o rio,
impossível e dual,
não desbarata o caudal.
Sobe da terra com troncos
robustos de castidade
e vai fecundar-te os broncos
abismos da virgindade. 

                 (Tréguas para o Amor)

FERNANDO ECHEVARRIA

quarta-feira, 8 de julho de 2015

735 - «DAS CIDADES» - BERTOLT BRECHT

735

DAS CIDADES

Por debaixo esgotos sobre o solo
Nada e por cima o fumo
Ah vivemos nós sem gozo nem consolo.
Depressa passámos nelas. E, devagar, elas seguem
                                                             o nosso rumo.

BERTOLT BRECHT

sexta-feira, 3 de julho de 2015

734 - PRAIA DAS MOITAS - MONTE ESTORIL - CASCAIS

734


Praia das Moitas - Monte Estoril, Cascais (Portugal).

A praia das Moitas é uma praia de pequenas dimensões situada ao longo do paredão que constitui o passeio marítimo entre Cascais e o Estoril, perto da estação de caminhos de ferro do Monte Estoril.
O pontão que a ladeia é o responsável pela acumulação de areia que permite o descanso dos banhistas. A zona, no entanto, é rochosa, o que obriga os veraneantes a entrarem com cautela no mar e a verem bem onde põem os pés, para não se magoarem.
Estando situada em pleno espaço pedonal, a meio caminho entre Cascais e o Monte Estoril, a praia não tem estacionamento, sendo acessível através de um curto passeio a pé ou de bicicleta. É servida por duas esplanadas junto ao areal.
[Fonte: Guia da Cidade].

Foto de Rei-artur.
Leia mais

segunda-feira, 8 de junho de 2015

730 - «AQUELE QUE PROCUROU...» - ANA HATHERLY

730

«AQUELE QUE PROCUROU...»

Aquele que procurou
E não encontrou,
É o homem desiludido.
Aquele que não procura
E tudo encontra
E nada pode fazer do que achou,
É mais que infeliz:
Sabe a verdade.

ANA HATHERLY

729 - «MAS QUE BRANCURA» - ANA HATHERLY

729

« MAS QUE BRANCURA...»

Mas que brancura impressionante
De estátua idealizada...

Acaso o tempo nos branqueia
Os ossos e o sentir?

Sai daí,
Humanidade perturbante do meu sonho!
Querem ser alma e corpo
De matéria que nem sequer existe?

                     (Um Ritmo Perdido)
                            
ANA HATHERLY                     

sábado, 6 de junho de 2015

728 - ILHA DA MADEIRA - PORTUGAL

728

ILHA DA MADEIRA - PORTUGAL

727 - »DESCOBRIREMOS O NOSSO MOVIMENTO» - FERNANDO ECHEVARRIA

727

»DESCOBRIBEMOS O NOSSO MOVIMENTO»

Descobriremos o nosso movimento
quase uma folha,
ou quase uma pupila
que se inclinasse e só nos desse o tempo
de uma sombra passar a entrar no olvido.
Mas, sobretudo, veremos
pensar-se um ar antigo

que vem ao movimento
quando mover-se nem sequer escrito.

FERNANDO ECHEVARRIA

quarta-feira, 3 de junho de 2015

725 - «DESCALÇA DE VIVER» - FERNANDO ECHEVARRIA

725

DESCALÇA DE VIVER

Descalça de viver, andava sempre,
Enchia a rua quando não passava.
Mas se passava, desfazia o tempo
e apagava a rua, os homens e as lágrimas.

Nem ela própria já vivia dentro
de si. A roupa que levava
tinha uma cor de triste e pensamento
que não se sente e não se vê. E nada

dela se via que que não fosse um vento.
Nem um silvo ou perfume a denunciava.
Sabia-se, de certo, que vivia

porque o dia, a certas horas se quedava
pronto, parado, como não sendo dia.
Ela, descalça de viver, passava...

FERNANDO ECHEVARRIA


segunda-feira, 1 de junho de 2015

723 - «RIO INFLEXIVEL» - FERNANDO ECHEVARRIA

723

RIO INFLEXIVEL

Margens de aroma. Em bloco
de formosura casta
me cingem.Mas não toco
corpos, porque me arrasta

necessária, uma força
recta de precisão.
Não há aroma que torça
vontade de razão.

E as flores, mortais
tempos de carne nua,
se oferecem demais.
Além de qualquer lua.

Longos corpos de aroma.
Fixos em cada aqui.
Por tão compacta soma
levo o meu rio a Ti.

FERNANDO ECHEVARRIA

quarta-feira, 20 de maio de 2015

721- «DANÇA E ENCANTAÇÃO» - (GABÃO) - HERBERTO HELDER

721-

-- Dança e encantação --

             (Gabão)


Solo:
Pelas cinzas da vítima votiva.
oferecida.
errantes espirítos da noite
que percorrem a floresta sombria
sem descanço...
Nunca mais!

Coro:
I-ô, iô, nunca mais.

Solo:
Espíritos dos mortos que não viram
 os sacrifícios funerários

Coro:
I-ô, i-ô, nunca mais


Solo:
Mortos que ainda não passaram
 passaram o rio das lágrimas.

Coro.
I-ô, iô, nunca mais


Solo:
O rio dos suspiros e das lágrima.

Coro:
O rio dos suspiros e da lágrimas.


Solo:
O rio do repouso grande.

Coro:
O rio do repouso grande.


Solo:
Espiritos da noite, sombrios
 espíritos guardadores.

Coro:
Guardadores

Solo:
Filho meu, guardado sejas,
guardado.
sempre, para sempre guardado.

Coro:
I-ô, iô, para sempre quadrado

terça-feira, 19 de maio de 2015

720 - «A ALBERTO TELES» - ANTERO DE QUENTAL

720

A ALBERTO TELES

Só! -- Ao ermita sozinho na montanha
Visita-o Deus e dá-lhe confiança:
No mar, o nauta, que o tufão balança,
Espera  um sopro amigo que o Céu tenha...

Só! -- Mas quem se assentou em riba estranha,
Longe dos seus, lá tem inda lembrança;
E Deus deixa-lhe ao menos a esperança!
Ao que à noite soluça em erma penha...

Só! -- Não o é quem na dor, quem nos cansaços,
Tem um laço que o prenda a este fadário,
Uma crença, um desejo... e inda um cuidado...

Mas cruzar, com desdém, inertes braços,
Mas passar, entre turbas, solitário,
Isto é ser só, é ser abandonado!

ANTERO DE QUENTAL


segunda-feira, 18 de maio de 2015

719 - MUNICÍPIOS DE PORTUGAL

719

Municípios de Portugal
Idanha-a-Nova - Distrito de Castelo Branco

Idanha-a-Nova é uma vila portuguesa no distrito de Castelo Branco, região Centro e sub-região da Beira Interior Sul, com cerca de 2 100 habitantes.

É sede do quarto município mais extenso de Portugal, com 1 416,34 km² de área, mas apenas com 9 716 habitantes (2011), subdividido em 13 freguesias. O município é limitado a norte pelo município de Penamacor, a leste e sul pela Espanha, a oeste por Castelo Branco e a noroeste pelo Fundão. #Portugal 
Wikipédia.

Fotos de: www.guiadacidade.pt

718 - «SONETO DE GELO» - CAMILO PESSANHA

718

SONETO DE GELO

Ingénuo sonhador -- as crenças d´oiro
Não a verás derruir... Deixa o destino
Levar-te no teu berço de bambino,
Porque podes perder esse tesoiro

Tens na crença um farol. Nem o procuras,
Mas bem o vês luzir sobre o infinito!...
E o homem que pensou -- foi precito,
Buscando a luz em vão -- sempre às escuras.

Eu mesmo quero a fé, e não a tenho...
--  Um resto de batel -- quisera um lenho,
Para não afundir, na treva imensa.

O Deus, o mesmo Deus que te fez crente...
Nem saibas que esse Deus omnipotente
Foi quem arrebatou a minha crença.

CAMILO PESSANHA


domingo, 17 de maio de 2015

717 - «A FLÓRIDO TELES» - ANTERO DE QUENTAL

717

A FLÓRIDO TELES

Se comparo poder ou ouro ou fama,
Venturas que em si têm oculto o dano,
Com aquele outro afecto soberano,
Que amor se diz e é luz de pura chama.

Vejo que são bem como arteira dama,
Que sob honesto riso esconde o engano,
E o que as segue, como homem leviano
Que por um vão prazer deixa quem o ama.

Nasce do orgulho aquele estéril gozo
E a glória dele é cousa fraudulenta,
Como quem na vaidade tem a palma:

Tem na paixão seu brilho mais formoso
E das paixões também some-o a tormenta...
Mas a glória do amor... essa vem d´alma!

ANTERO DE QUENTAL



quinta-feira, 14 de maio de 2015

716 - «TORMENTO IDEAL» - ANTERO DE QUENTAL

716

TORMENTO DO IDEAL

Conheci a Beleza que não morre
E fiquei triste. Como quem da serra
Mais alta que haja, olhando aos pés a terra
E o mar, vê tudo, a maior nau ou torre.

Minguar, fundir-se, sob a luz que jorre;
Assim eu vi o mundo e o que ele encerra
Perder a cor, bem como a nuvem que erra
Ao pôr do Sol e sobre o mar discorre.

Pedindo à forma, em vão, a ideia pura,
Tropeço, em sombras,  na matéria dura,
E encontro a imperfeição  de quanto existe.

Recebi o baptismo dos poetas,
E assentado entre as formas incompletas
Para sempre fiquei pálido e triste.

ANTERO DE QUENTAL

quarta-feira, 13 de maio de 2015

715 - LISBOA VISTA DO RIO

715

LISBOA VISTA DO RI0:  VENDO-SE O PANTEÃO DE
SANTA ENGRÁCIA E A IGREJA DE SÃO VICENTE

terça-feira, 12 de maio de 2015

714 -«A M.C.» - ANTERO DE QUENTAL

714

A  M.C..

Põs-te Deus sofre a fronte a mão piedosa:
O que fada o poeta e o soldado
Volveu a ti o olhar, de amor velado,
E disse-te: «Vai, filha, sê formosa!»

E tu, descendo da onda harmoniosa,
Pousaste neste solo angustiado,
Estrela envolta num clarão sagrado,
Do teu límpido  olhar na luz radiosa...

Mas eu.... posso eu acaso merecer-te?
Deu-te o Senhor, mulher!  o que é vedado,
Anjo! deu-te o Senhor um mundo à parte.

E a mim, a quem deu olhos para ver-te,
Sem poder mais...a mim o que me há dado?
Voz, que me cante, e uma alma para amar-te!

ANTERO DE QUENTAL

segunda-feira, 11 de maio de 2015

713 - «A FLOR SEM NOME» - FERNANDO ECHEVARRIA

713

A FLOR SEM NOME

As rosas reuniram outra vez
uma ordem de fogo rumorosa.
E o povo bebeu
aquela rosa.

E vai crescendo em círculos,
em onda,
a pura embriaguez
daquela flor redonda.

Vai crescendo por dentro
-- vermelha, música, apertada.
E faz doer os ossos.
Vem irada

como lua de sangue
que sobe na garganta
e se agarra aos soluços e à prudência,
mas já canta.

E, sobretudo, queima.
Sobretudo, coloca
um vendaval de pedras
em cada boca.

E arde.
Arde e consome
aquela flor maldita
que ainda não tem nome

FERNANDO ECHEVARRIA

domingo, 10 de maio de 2015

712 - SÃO PEDRO DO SUL - COVAS DO RIO

712

Aldeias de Portugal - Covas do Monte
Distrito: Viseu - Concelho: São Pedro do Sul - Freguesia: Covas do Rio

Para chegar à aldeia de Covas do Monte, em São Pedro do Sul, é preciso percorrer um caminho sinuoso mas de rara beleza, atravessando a serra da Freita e vislumbrando as de Montemuro e da Gralheira. O passeio vale por si só, mas o melhor está ainda para chegar! Situada na serra de São Macário, Covas do Monte está a 450 metros de altitude, pelo que aqui se respira um ar puríssimo. A paisagem verdejante, com montanhas a toda a volta, a que ninguém fica indiferente, é pontuada por rebanhos, criando um cenário bucólico. Por aqui abaixo corre água fresquíssima, encaminhada para a aldeia e distribuída pelos campos através de um regadio tradicional.

Fonte, fotos e saber mais:
http://www.aldeiasportugal.pt/sobre/62/#.VU-zqPlViko
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sábado, 9 de maio de 2015

711 - «LAMENTO» ANTERO DE QUENTAL

711

LAMENTO

Um dilúvio de luz cai da montanha:
Eis o dia! eis o Sol! o esposo amado!
Onde há por toda a Terra um só cuidado...
Que não dissipe a luz que o mundo banha?

Flor a custo medrada em erma penha.
Revolto mar ou golfo congelado,
Aonde há ser  de Deus tão olvidado
Para quem paz  e alívio o Céu não tenha?

Deus é Pai! Pai de toda a criatura;
E a todo o ser o seu amor assiste:
De seus filhos o mal sempre lembrado...

Ah! se Deus a seus filhos dá ventura
Nesta hora santa... e eu só posso ser triste...
Serei filho, mas filho abandonado!

ANTERO DE QUENTAL



sexta-feira, 8 de maio de 2015

710 - «VISTA DE LISBOA»

710

VISTA DE LISBOA VENDO-SE A IGREJA DE SÃO VICENTE
E A TORRE DO PANTEÃO DE SANTA ENGRÁCIA

quinta-feira, 7 de maio de 2015

709 - «A FLOR SEM NOME» FERNANDO ECHEVARRIA

709

A FLOR SEM NOME

As rosas reuniram outra vez
uma ordem de fogo rumorosa.
E o povo bebeu
aquela rosa

E vai crescendo em círculos,
em onda, a
pura embriaguez
daquela flor redonda.

Vai crescendo por dentro
-- vermelha, música, apertada.
E faz doer os ossos.
Vem irada

como lua de sangue
que sobe na garganta
e se agarra aos soluços e à prudência,
mas já canta.

E, sobretudo, queima.
Sobretudo, coloca
um vendaval de pedras
em cada boca.

E arde.
Arde e consome
aquela flor maldita
que ainda não tem nome.

FERNANDO ECHEVARRIA

quarta-feira, 6 de maio de 2015

708 - «O CAMPONÊS PREOCUPA-SE COM O SEU CAMPO» BERTOLT BRECHT

708

O CAMPONÊS PREOCUPA-SE COM O SEU CAMPO

                             I

O camponês preocupa-se com o seu campo
Cuida do gado paga os impostos
Faz filhos para não ter criados e
Depende do preço do leite.
Os homens da cidade falam do amor à terra
Da sadia raça camponesa e
Vêem no camponês a base da nação.

                            II

Os homens da cidade falam do amor à terra
Da sadia raça camponesa e
Vêem no camponês a base da nação.
O camponês preocupa-se com o seu campo
Cuida do gado paga os impostos
Faz filhos para não ter criados e
Depende do preço do leite.

BERTOLT BRECHT

terça-feira, 5 de maio de 2015

707 - CASTELO DE BRAGANÇA



707

CASTELO DE BRAGANÇA

706- «A PROPÓSITO DA NOTÍCIA DA DOENÇA DE UM PODEROSO ESTADISTA« - BERTOLT BRECHT

706

A PROPÓSITO DA NOTÍCIA DA DOENÇA
DE UM PODEROSO ESTADISTA

Se este homem insubstituível franze um sobrolho
Dois reinos periclitam
Se este homem insubsetituível morre
O mundo inteiro se aflige como a mãe sem leite para o filho
Se este homem insubstituível ressuscitasse ao oitavo dia
Não hacharia em todo o império uma vaga de porteiro.

BERTOLT BRECHT

domingo, 3 de maio de 2015

705 - «DISPENSO A PEDRA TUMULAR» -BERTOLT BRECHT

705
DISPENSO A PEDRA TUMULAR

Dispenso a pedra tumular mas
Se fizerem questão de me dar uma
Gostaria que nela escrito fosse:
Ele deu sugestões: nós
Aceitámo-las.
Uma tal inscrição
A todos honraria.

BERTOLT   BRECHT

sexta-feira, 1 de maio de 2015

703 - «COM O TEMPO A SABEDORIA» W. B. YEATS

703


COM O TEMPO A SABEDORIA

Embora muitas sejam as folhas, a raíz é só uma;
Ao longo dos enganadores dias da mocidade,
Oscilaram ao sol minhas folhas, minhas  flores;
Agora posso murchar no coração da verdade.


THE COMING OF WISDOM WITH TIME

Though leaves are many, the root is one;
Through all the lying days of my youth
I swayed my leaves and flowers in the sun;
Now I may wither into the truth.

W. B. YEATS

sábado, 25 de abril de 2015

702 - «ESTE HOMEM....» - BERTOLT BRECHT

702

ESTE HOMEM SABIA ELABORAR
UM PLANO, E CAÍU

Este homem sabia elaborar um plano, e caíu. Estoutro
Mostrou coragem, e caíu. Quanto a nós, congratulamo-nos
Com o plano e com a coragem, e choramos.

Alegrámo-nos por que eles batiam
E choramos por que eles cairam e não
Por que eles se bateram,
Ah, nem todo o homem que regressa a sua casa é um vencedor
Mas não há vencedor que não regresse a sua casa.

BERTOLT BRECHT

sexta-feira, 17 de abril de 2015

697 - «BRISA» - FERNANDSO ECHEVARRIA

697

BRISA

Mão de Deus fluvial
toca a estrela e a rosa.
E só repousa
na música geral.

A lágrima de tacto.
A água não arruma.
Estremece. De facto
cria o mundo de espuma.

E as flores do fundo
a conhecem ardente
terremoto, rente
ao coração do mundo.

O mundo quase mudo
que um grande mar invade.
Livre. Da castidade
de quem só ama tudo.

FERNANDO ECHEVARRIA

sexta-feira, 10 de abril de 2015

695 - «CORRESPNDÊNCIA» - FERNANDO ECHEVARRIA

695

CORRESPONDÊNCIA

Eira que tu vergaste, meu senhor,
com pancadas de cruz no gelo vivo.
Dorso que espalmas, malhas sem motivo
além da violência do amor,

A pedra, rompe dos dentes, com furor,
do meu agudo beijo o Teu esquivo.
Malhas, Senhor, meu beijo, sem motivo
além da violência do amor.

Espancas e vergastas o desejo
de a Ti me dar comoTe dou um beijo.
Malhas, Senhor, e sabes que estou vivo

porque ofereço as minhas costas brancas
-- beijo que espalmas e eira que Tu espancas --
sòmente por amor, sem mais motivo. 
           
                                     (Entre Dois Anjos)

FERNANDO ECHEVARRIA


694 - «ELEVADOR DE SANTA JUSTA» - LISBOA

694

ELEVADOR DE SANTA JUSTA  -  LISBOA

sexta-feira, 3 de abril de 2015

693 - «INCORRUPTA E LIVRE» - MARIA AMÉLIA NETO

693

INCORRUPTA E LIVRE

Nem o declínio prematuro
Dos lírios do vale,
Nem a queixa pressentida
Das flautas ocultas,
Nem a marcha na estrada,
Onde poisou, hirto,
O pequeno corpo,
Nada  do que a fez germinar
Lhe prendeu os veios invisíveis.

Incorrupta e livre,
A amargura deixou
Os seus sinais translúcidos no portal,
E roçou, fluida,
Por todas as fronteiras estelares,
Tornando desumana a noite do poeta.

MARIA AMÉLIA NETO

quinta-feira, 2 de abril de 2015

692 - SEM TITULO


692

SEM TÍTULO

691 - «A VIAGEM» - MARIA AMÉLIA NETO

691

A VIAGEM

Acabo de chegar,
Irmão,
E vim de longe.

Vi rostos
Inclinados sobre a terra
E torpor do mundo
Num olhar,
Vi as pedras
Da estrada
Ensanguentadas
E o sol
Feito poeira
Sobre as pedras.
Vi a sombra
Da noite
A diluir-se
No frio da madrugada.

Agora
A morte caminha atr+as de mim,
Irmão,
E acabo de chegar.

MARIA AMÉLIA NETO» 

domingo, 29 de março de 2015

690 - «O MEDO» - MARIA AMÉLIA NETO

690

  O  MEDO

Surgiu
Por detrás
Da nuvem escura
Que tapou a lua.
Escorregou
Sobre a planície
Negro
Envolto
Em longas chamas.
Era meu.
Pertencia-me.
Era o medo.

MARIA AMÉLIA NETO



sábado, 21 de março de 2015

687 - «ECCE HOMO» - JOÃO RUI DE SOUSA

687

ECCE HOMO

Dói-me habitar esta palavra
amarga
este temor
esta voz íntima
este jeito pobre
no agir
esta luz mortiça
e devagar
a capa mole
de sombra e de fuligem
este amarelo dos dedos
e da esperança
este roer de unhas 
e cansaço
esta viagem certa
por paízes estranhos
esta inocência surda
e rumorosa
esta maneira funda
de sentir
de amar o próximo
ou esta vulgar dor
só de existir.
É uma pequena guerra
em que me afundo
este habitar sem armas
a tristeza
-- não saber o mundo.

JOÃO RUI DE SOUSA

terça-feira, 17 de março de 2015

684 - «QUADRANTE I» - JOÃO RUI DE SOUSA

684

QUADRANTE I

                  Óleo de Almada Negreiros
                           Exposição Gulbenkian, 1958

Recalcadamente vago e cego e agudo
contemplo o teu perfil exacto
de esmeril:

Cantante, embora mudo.
Errado, embora vão.
Certíssimo
(certo ou errado?)
na doida exactidão
dum astro
escuro e vivo.

JOÃO RUI DE SOUSA


segunda-feira, 9 de março de 2015

677 - «O TEMPO PASSA? NÃO PASSA» CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

677

O Tempo Passa? Não Passa

O tempo passa? Não passa 
no abismo do coração. 
Lá dentro, perdura a graça 
do amor, florindo em canção. 

O tempo nos aproxima 
cada vez mais, nos reduz 
a um só verso e uma rima 
de mãos e olhos, na luz. 

Não há tempo consumido 
nem tempo a economizar. 
O tempo é todo vestido 
de amor e tempo de amar. 

O meu tempo e o teu, amada, 
transcendem qualquer medida. 
Além do amor, não há nada, 
amar é o sumo da vida. 

São mitos de calendário 
tanto o ontem como o agora, 
e o teu aniversário 
é um nascer toda a hora. 

E nosso amor, que brotou 
do tempo, não tem idade, 
pois só quem ama 
escutou o apelo da eternidade. 

Carlos Drummond de Andrade, in 'Amar se Aprende Amando' 
// Consultar versos e eventuais rimas