420
terça-feira, 29 de abril de 2014
segunda-feira, 28 de abril de 2014
domingo, 27 de abril de 2014
418 - NATÉRCIA FREIRE - CREPÚSCULO
418
CREPÚSCULO
Uma Pátria de angústia
No lento anoitecer
Coroa o dia álgido
No verão de ardentes sóis.
Vão morrer os heróis.
A voz crepuscular
Dos campos e das ondas
Agoniza comigo.
E promete e promete
Imensas alquimias
Em braços de outros dias.
Em bocas de outro mae.
Os deuses vão voltar.
Há quanto tempo eu estou
Marcada a fogo e ferro,
Na paz do meu desterro,
Na morte sem enterro.
Oiço-te, Mãe, na bruma
Tangendo às nossas filhas
Um instrumento de espuma
Forrado de sumaúma...
E ele, o meu ser de gelo,
O meu senhor de frio
Amarra-me o cabelo
Aos flancos do navio.
(A Segunda Imagem)
Natércia Freire
CREPÚSCULO
Uma Pátria de angústia
No lento anoitecer
Coroa o dia álgido
No verão de ardentes sóis.
Vão morrer os heróis.
A voz crepuscular
Dos campos e das ondas
Agoniza comigo.
E promete e promete
Imensas alquimias
Em braços de outros dias.
Em bocas de outro mae.
Os deuses vão voltar.
Há quanto tempo eu estou
Marcada a fogo e ferro,
Na paz do meu desterro,
Na morte sem enterro.
Oiço-te, Mãe, na bruma
Tangendo às nossas filhas
Um instrumento de espuma
Forrado de sumaúma...
E ele, o meu ser de gelo,
O meu senhor de frio
Amarra-me o cabelo
Aos flancos do navio.
(A Segunda Imagem)
Natércia Freire
sábado, 26 de abril de 2014
quinta-feira, 24 de abril de 2014
415 - «DE CEREJAS BRANCAS...» - RAUL DE CARVALHO
415
«DE CEREJAS BRANCAS...»
-- De cerejas brancas, de estrelas vermelhas, de lábios
azuis.
Era a tua voz. Doce, docemente, inocentemente.
Dizia palavras, dizia palavras... Alucinações.
Monstros e promessas. Magia, segredo. Artes do Diabo
Reflexos tristes da luz que nos foge, da luz que anda
à solta e nos deixa presos.
Ouço a tua.voz chamando, chamando...
Ah! nenhum de nós somos os culpados!
Docemente extinta. Inocentemente.
Um círculo da lua rodeia teus braços,
um raio do Sol te dirige os passos..
É a tua voz! de menino e moço!
Hh!, quanta ternura tem a tua voz,
quanto beijo que jamais fora dado,Deus
quanta linda festa logo interrompida
quanto abraço que desejaste dar...
Ouço a tua voz. É som ou desmaio?
É quebranto? É música? Sai do coração?
Ouço a tua voz, que respeita e ama,
como irmão mais novo a irmão mais velho.
Diz-me que é inútil. Que essa tua voz
não é verdadeira, porque sofrerás...
Embora me tragas, sem eu saber como,
alguma alegria, um pouco de paz!
Queira Deus que tu, irmão meu, encontres
alguém que ao ouví-la, quando estiveres só
te ame e compreenda, te ouça e adormeça,
te afirme que tens um lugar no mundo...
Raul de Carvalho
«DE CEREJAS BRANCAS...»
-- De cerejas brancas, de estrelas vermelhas, de lábios
azuis.
Era a tua voz. Doce, docemente, inocentemente.
Dizia palavras, dizia palavras... Alucinações.
Monstros e promessas. Magia, segredo. Artes do Diabo
Reflexos tristes da luz que nos foge, da luz que anda
à solta e nos deixa presos.
Ouço a tua.voz chamando, chamando...
Ah! nenhum de nós somos os culpados!
Docemente extinta. Inocentemente.
Um círculo da lua rodeia teus braços,
um raio do Sol te dirige os passos..
É a tua voz! de menino e moço!
Hh!, quanta ternura tem a tua voz,
quanto beijo que jamais fora dado,Deus
quanta linda festa logo interrompida
quanto abraço que desejaste dar...
Ouço a tua voz. É som ou desmaio?
É quebranto? É música? Sai do coração?
Ouço a tua voz, que respeita e ama,
como irmão mais novo a irmão mais velho.
Diz-me que é inútil. Que essa tua voz
não é verdadeira, porque sofrerás...
Embora me tragas, sem eu saber como,
alguma alegria, um pouco de paz!
Queira Deus que tu, irmão meu, encontres
alguém que ao ouví-la, quando estiveres só
te ame e compreenda, te ouça e adormeça,
te afirme que tens um lugar no mundo...
Raul de Carvalho
sábado, 19 de abril de 2014
sexta-feira, 18 de abril de 2014
413 - ESTA GENTE - SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDERSEN
413
ESTA GENTE
Esta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco
Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis
Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre
Poi a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome
E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada
Meu canto se renova
E recomeço a busca
Dum país liberto
Duma vida limpa
E dum tempo justo
(Geografia)
Sophia de Mello Breyner Andersen
ESTA GENTE
Esta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco
Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis
Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre
Poi a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome
E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada
Meu canto se renova
E recomeço a busca
Dum país liberto
Duma vida limpa
E dum tempo justo
(Geografia)
Sophia de Mello Breyner Andersen
quinta-feira, 17 de abril de 2014
quarta-feira, 16 de abril de 2014
domingo, 13 de abril de 2014
410 - «QUE SENSIBILIDADE...» JOÃO JOSÉ COCHOEL
410
«QUE SENSIBILIDADE...»
Que sensibilidade me sobe
da passada adolescência?
que agudeza dos sentidos
me perturba a consciência?
Surge do desencanto
um mundo a que me abandono.
tranquilo e caricioso
como um sol de Outono.
A cor, a luz, as formas,
sinto-as de coração novo!
Em tudo desconheço
uma experiência que renovo.,
Como quem sai
de uma londa doença
deslombrado e comovido
pela convalescença.
(Os Dias Íntimos, in 46º.Aiversário)
João José Cochofel
«QUE SENSIBILIDADE...»
Que sensibilidade me sobe
da passada adolescência?
que agudeza dos sentidos
me perturba a consciência?
Surge do desencanto
um mundo a que me abandono.
tranquilo e caricioso
como um sol de Outono.
A cor, a luz, as formas,
sinto-as de coração novo!
Em tudo desconheço
uma experiência que renovo.,
Como quem sai
de uma londa doença
deslombrado e comovido
pela convalescença.
(Os Dias Íntimos, in 46º.Aiversário)
João José Cochofel
409 - CLANDESTINIDADE - FERNANDO NAMORA
409
CLANDESTINIDADE
Secreto me acho
e secreto me sentes
quando
secreto me julgas
impuro me reconheço
quando
o nosso silêncio
são vozes turvas.
Dúbio é o desejo
quando
não é transparente
a água em que se deita
precavidamente.
Clandestinos somos
quando
o que somos
teme a face que pesquisa.
Os olhos são claros
quando
a superfície do espelho
é lisa.
Fernando Namora
CLANDESTINIDADE
Secreto me acho
e secreto me sentes
quando
secreto me julgas
impuro me reconheço
quando
o nosso silêncio
são vozes turvas.
Dúbio é o desejo
quando
não é transparente
a água em que se deita
precavidamente.
Clandestinos somos
quando
o que somos
teme a face que pesquisa.
Os olhos são claros
quando
a superfície do espelho
é lisa.
Fernando Namora
sexta-feira, 11 de abril de 2014
408 - ROMARIA - FERNANDO NAMORA
408
ROMARIA
Há festa! há festa!
Foguetões de romaria,
gente de fora e de dentro!
Quem vem aí, de braço dado comigo,
a inventar o meu sorriso
e a cobrir a escória que me suja?
Quem és tu que em noites nevadas
me vem aquecer o leito?
Vem comigo de olhos despertos,
roxos ou cinzentos
-- cegos
Vem comigo, nua ou louca,
com teu sexo e a tua boca
-- vem à romaria!
Fernando Namora
ROMARIA
Há festa! há festa!
Foguetões de romaria,
gente de fora e de dentro!
Quem vem aí, de braço dado comigo,
a inventar o meu sorriso
e a cobrir a escória que me suja?
Quem és tu que em noites nevadas
me vem aquecer o leito?
Vem comigo de olhos despertos,
roxos ou cinzentos
-- cegos
Vem comigo, nua ou louca,
com teu sexo e a tua boca
-- vem à romaria!
Fernando Namora
terça-feira, 8 de abril de 2014
407 - COMO É NATURAL - MÁRIO DIONÍSIO
407
COMO É NATURAL
Vão longe os dias de intermezzo
quando a brisa indolente passeava
doce esperança à flor dos lábios mudos
Se uma folha caía se um rumor
brando acordava o silêncio mal represo
quante alarme no ar de flores coberto
Vão longe os tempos de alvoroço
de fronteira a fronteira imaginária
rara aventura \ agora impessoal
uma alegria alheia que hoje amarga
Dou corda a este velho relógio de parede
pesa-me o braço que levanto
do peso de outros tempos que desperto
E um fantasma lá dos fundos do quadrante
sorri-me com tristeza e diz É tarde
talvez já seja muito tarde
(«O Silêncio voluntário», Poesia Incompleta)
Mário Dionísio
COMO É NATURAL
Vão longe os dias de intermezzo
quando a brisa indolente passeava
doce esperança à flor dos lábios mudos
Se uma folha caía se um rumor
brando acordava o silêncio mal represo
quante alarme no ar de flores coberto
Vão longe os tempos de alvoroço
de fronteira a fronteira imaginária
rara aventura \ agora impessoal
uma alegria alheia que hoje amarga
Dou corda a este velho relógio de parede
pesa-me o braço que levanto
do peso de outros tempos que desperto
E um fantasma lá dos fundos do quadrante
sorri-me com tristeza e diz É tarde
talvez já seja muito tarde
(«O Silêncio voluntário», Poesia Incompleta)
Mário Dionísio
quinta-feira, 3 de abril de 2014
406 - POEMA DA RENÚNCIA - ÁLVARO FEIJÓ
406
POEMA DA RENÚNCIA
Que venha a noite e deixe o seu mistério
sobre nós dois, amor!
Não fomos feitos para andar ao sol,
continuamente,
nem para ter saudades do passado
ou para chorar um sonho que se esfolha.
Nascemos só para viver e amar
e construir, na sombra e no silêncio;
nascemos só para cantar e encher do nosso canto
heróico
a calma da alvorada que se espera;
nascemos só para nos confundirmos
na imensa teoria humana que se forma
e caminha consciente!
Que venha a noite e deixe o seu mistério
sobre nós,
e traga, sobre nós, o esquecimento!
Álvaro Feijó
POEMA DA RENÚNCIA
Que venha a noite e deixe o seu mistério
sobre nós dois, amor!
Não fomos feitos para andar ao sol,
continuamente,
nem para ter saudades do passado
ou para chorar um sonho que se esfolha.
Nascemos só para viver e amar
e construir, na sombra e no silêncio;
nascemos só para cantar e encher do nosso canto
heróico
a calma da alvorada que se espera;
nascemos só para nos confundirmos
na imensa teoria humana que se forma
e caminha consciente!
Que venha a noite e deixe o seu mistério
sobre nós,
e traga, sobre nós, o esquecimento!
Álvaro Feijó
quarta-feira, 2 de abril de 2014
405 - TEMPO LÚCIDO - TOMAZ KIM
405
TEMPO LÚCIDO
Tudo é
Este marulhar em cachão
Na teia de veias há milénios traçada
Com exactidão
Da rota de astros jamais traída
E pela vida envilecida
Ou assim julgada.
De nada e para nada serve,
Agora.
O resto que se revela
Fora
Do sanguíneo traçado.
Inesperado,
De súbito desmascarado,
Cimeiro à flor do desejo fugaz,
Torpe (e quando em paz?),
Pautado pela saciedade inevitável,
Exacta,
Coerente com esta condição:
A nossa.
Êxtase. Nojo.
Eis o rumo implacável
De uma jornada
A que o rubro fluir compele
E os fados ordenam.
(Exercícios Temporais)
Tomaz Kim
TEMPO LÚCIDO
Tudo é
Este marulhar em cachão
Na teia de veias há milénios traçada
Com exactidão
Da rota de astros jamais traída
E pela vida envilecida
Ou assim julgada.
De nada e para nada serve,
Agora.
O resto que se revela
Fora
Do sanguíneo traçado.
Inesperado,
De súbito desmascarado,
Cimeiro à flor do desejo fugaz,
Torpe (e quando em paz?),
Pautado pela saciedade inevitável,
Exacta,
Coerente com esta condição:
A nossa.
Êxtase. Nojo.
Eis o rumo implacável
De uma jornada
A que o rubro fluir compele
E os fados ordenam.
(Exercícios Temporais)
Tomaz Kim
403 - REGRESSO - JOAQUIM NAMORADO
403
REGRESSO
Em cada canto revejo a minha infância...
outras rosas iguais a estas rosas,
nenhuma tinha o perfume da lembrança
que estas rosas têm,
estas rosas colhidas no jardim distante
-- os ponteiros parados do relógio da torre
que horas marcam?
Passou o tempo
ou é o emigrante que volta quem mudou?
Tudo me sabe ainda ao que deixei,
ou quero que me saiba porque sei
a recordação do que era?...
Em cada canto me encontro como fui
-- como sou, estrangeiro na minha casa,
ninguém, nem eu, me recohece agora.
Joaquim Namorado
REGRESSO
Em cada canto revejo a minha infância...
outras rosas iguais a estas rosas,
nenhuma tinha o perfume da lembrança
que estas rosas têm,
estas rosas colhidas no jardim distante
-- os ponteiros parados do relógio da torre
que horas marcam?
Passou o tempo
ou é o emigrante que volta quem mudou?
Tudo me sabe ainda ao que deixei,
ou quero que me saiba porque sei
a recordação do que era?...
Em cada canto me encontro como fui
-- como sou, estrangeiro na minha casa,
ninguém, nem eu, me recohece agora.
Joaquim Namorado
terça-feira, 1 de abril de 2014
402 - MANIA DAS GRANDEZAS - JOAQUIM NAMORADO
402
MANIA DAS GRANDEZAS
Pois bem, confesso:
fui eu quem descobriu as Babilónias
e descobriu a pólvora...
Acredite,
a estrela Sírius, de primeira grandeza,
(única no mercado)
deixou-ma meu tio-avô em testamento.
No meu bolso esconde-se o segredo
das alquimias
e a metafísica das religiões
-- Tudo por inspiração!
Que querem?
Sou poeta
e tenho a mania das grandezas...
Talvez ainda venha a ser Presidente da República...
Joaquim Namorado
MANIA DAS GRANDEZAS
Pois bem, confesso:
fui eu quem descobriu as Babilónias
e descobriu a pólvora...
Acredite,
a estrela Sírius, de primeira grandeza,
(única no mercado)
deixou-ma meu tio-avô em testamento.
No meu bolso esconde-se o segredo
das alquimias
e a metafísica das religiões
-- Tudo por inspiração!
Que querem?
Sou poeta
e tenho a mania das grandezas...
Talvez ainda venha a ser Presidente da República...
Joaquim Namorado
401 - «O SOL DEIXOU-ME...» MERÍCIA DE LEMOS
401
«O SOL DEIXOU-ME...»
O sol deixou-me...
É a hora perturbadora e dolorosa
do anoitecer.
As nuvens azuis e cor de rosa
desapareceram.
E a escuridão que se aproxima
faz-me sentir ainda mais
que sou sòzinha
.
O vento transformou-se em brisa
para que nenhuma árvore estremeça
e sacuda os ninhos.
A noite, as rosas levemente pisa,
Espalham-se aromas pelo ar.
As pombas recolhem aos pombais.
As crianças, nos braços das mães,
esfregam os olhos com sono.
Nos lares unidos, há beijos mais amigos.
Fecham-se as janelas uma a uma.
A minha alma pela mais cinzenta estrada
caminha,
sentindo do sol o abandono
(Pássaro Preso)
Merícia de Lemos
«O SOL DEIXOU-ME...»
O sol deixou-me...
É a hora perturbadora e dolorosa
do anoitecer.
As nuvens azuis e cor de rosa
desapareceram.
E a escuridão que se aproxima
faz-me sentir ainda mais
que sou sòzinha
.
O vento transformou-se em brisa
para que nenhuma árvore estremeça
e sacuda os ninhos.
A noite, as rosas levemente pisa,
Espalham-se aromas pelo ar.
As pombas recolhem aos pombais.
As crianças, nos braços das mães,
esfregam os olhos com sono.
Nos lares unidos, há beijos mais amigos.
Fecham-se as janelas uma a uma.
A minha alma pela mais cinzenta estrada
caminha,
sentindo do sol o abandono
(Pássaro Preso)
Merícia de Lemos
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