domingo, 27 de abril de 2014

418 - NATÉRCIA FREIRE - CREPÚSCULO

418

           CREPÚSCULO

Uma Pátria de angústia
No lento anoitecer
Coroa o dia álgido
No verão de ardentes sóis.

Vão morrer os heróis.

A voz crepuscular
Dos campos e das ondas
Agoniza comigo.
E promete e promete

Imensas alquimias
Em braços de outros dias.
Em bocas de outro mae.

Os deuses vão voltar.

Há quanto tempo eu estou
Marcada a fogo e ferro,
Na paz do meu desterro,
Na morte sem enterro.

Oiço-te, Mãe, na bruma
Tangendo às nossas filhas
Um instrumento de espuma
Forrado de sumaúma...

E ele, o meu ser de gelo,
O meu senhor de frio
Amarra-me o cabelo
Aos flancos do navio.
                    (A Segunda Imagem)

Natércia Freire

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