segunda-feira, 17 de março de 2014

396 - XÁCARA DAS MULHERES AMADAS - MÁRIO SAA

396

XÁCARA DAS DAS MULHERES AMADAS

Quem muitas mulheres tiver,
em vez duma amada esposa,
mais se afirma e se repousa
para amar sua mulher;
quem isto não entender...
em cousas de amor não ousa,
em cousas d`amor não quer!

Quantas mais, mais se descança,
mais a gente serve a todas;
quantas mais forem as bodas,
quantos mais os pares da dança,
nenos a dança nos cansa
o gosto d`andar nas rodas.

Que quantas mais, mais detido
a cada uma per si;
nem cansa tanto o que vi,
nem fica o gosto partido;
ao contrário, é acrescido
a cada uma  per si!

No paladar de mudar
mais se sente o gosto agudo;
que amar nada ou amar tudo
é estar pronto a muito amar;
o enjoo vem de não estar
a par do nada e do tudo.

Mais fàcilmente se chega
pera muitas que pera uma;
e a razão é porque, em suma,
se esta razão me não cega,
quem quer que muitas adrega
é como tendo... nenhuma!

Com muitas descanço vem,
faz o desejo acrescido;
que é o mais apetecido
aquilo que se não tem;
e o apetite é o bem;
e em saciá-lo é perdido.

Também a mulher que tem
seu marido repartido
é mais gostosa do bem
que advém de seu marido!

Tão gostosa e recolhia,
tão pronta e tão conformada,
quanto o gosto é  não ter nada;
porque o gosto é ser servida
e não estar cotentada.
O gosto é cousa corrente,
e quem o tem já não sente
o gosto dessa corrida
que tê-lo, é cousa ... jasente...
que tê-lo, é cousa perdida!

Ora, pois, nesta jornada
não vi nada mais de amar
que ter muito por chegar
e cousa alguma chegada:
não vi nada mais de ter...
que ter muito que perder...
e cousa alguma ganhada!

(In Cancionriro do I Salão dos Independentes, 1930)

Mário Saa



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