quarta-feira, 19 de março de 2014

398 - DESENCONTRO - MÁQUINA DO MUNDO - ANTÓNIO GEDEÃO

398

             DESENCONTRO

Que língua estranjeira é esta
que me roça a flor do ouvido,
um vosear sem sentido
que nenhum sentido empresta?
Sussurro de vago tom,
reminiscência de esfinge,
voz que se julga, ou se finge
sentido, e é apenas som
contracenamos por gestes,
por sorrisos, por olhares,
rodeios protocolares,
comprimentos indigestos,
firmes apertos de mão,
passeios de braço dado,
mas por som articulado,
por palavras, isso não.
Antes morrer atolado
na mais negra silidão

MÁQUINA DO MUNDO


O Universo é feito essencialmente de coisa                                                                       [nenhuma
Intervalos, distâncias, buracos, porosidade etéria.
Espaço vazio, em suma,

O resto é a matéria.
Daí, que este arrepio,
este chamá-lo e tê-lo, erguê-lo e defrontá-lo,
esta forma aberta no vazio,
deve ser um intervalo.
                             (Máquina de Fogo)
António Gedeão

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