sexta-feira, 30 de maio de 2014

442 - "TORRE DE CCENTUM CELLAS"

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Portugal+



Compartilhada publicamente  -  16:11
Torre de Centum Cellas - Belmonte, Castelo Branco (Portugal).

As ruínas da Torre de Centum Cellas, também conhecida por "Torre de São Cornélio", situam-se numa área particularmente fértil e próxima da confluência da Ribeira de Gaia com o Rio Zêzere, cujos aluviões metalíferos sabemos terem sido explorados desde épocas bastante recuadas.
O monumento, em si, apresenta-se como um dos mais emblemáticos, mas ao mesmo tempo dos mais enigmáticos de todos quantos existem na Beira Interior e se atribuem à presença romana no nosso território.
Na verdade, foram elaboradas ao longo do tempo as mais diversas teorias respeitantes à sua real funcionalidade primitiva. Assim, desde templo, a prisão, passando por um praetorium (núcleo de um acampamento romano), a um mansio (estação de muda), mutatio (albergaria para descanso dos viajantes), uilla romana, para além de muitas outras, tudo parece ter sido contemplado e proposto.
Todavia, as escavações realizadas pelo IPPAR, entre 1993 e 1998, demonstraram que o edifício da Torre não se encontrava isolado, antes, sim, inserido num conjunto estrutural mais amplo e complexo, que incluía diversos compartimentos, de entre os quais sobressaiam salas, corredores, escadarias, caves e pátios.
Por conseguinte, a Torre revela-se a parte central e melhor conservada daquela que terá constituído a uilla de Lucius Caecilius, um abastado cidadão romano, negociante de estanho, que, em meados do século I d. C. mandou edificar a sua residência nesta zona, sob direcção de um arquitecto, o qual, ao que tudo parece indicar, conheceria com profundidade as técnicas construtivas ditadas por Vitrúvio.
Composta de apenas dois pisos, a Torre reveste-se de uma evidente centralidade e imponência arquitectónica, em redor da qual se desenvolveu a restante estrutura habitacional, desempenhando um papel de autêntico epicentro das suas eclécticas tarefas diárias.
Datando a sua construção inicial do século I d. C., este edifício foi parcialmente incendiado e destruído em finais do século III, altura em que foi alvo de algumas alterações, designadamente ao nível da disposição dos vários elementos que o compunham na origem. De entre este conjunto de remodelações, realçamos a presença de uma sala com abside e larário, para cuja edificação foram reaproveitados materiais pertencentes às estruturas preexistentes. Entretanto, datará da Alta Idade Média a construção de uma capela dedicada a São Cornélio sobre as ruínas da própria uilla, reempregando, para o efeito, e uma vez mais, parte dos seus materiais constitutivos. Esta capela viria, no entanto, a desaparecer já em pleno século XVIII.
A área intervencionada até ao momento contempla somente uma pequena parcela da pars urbana da uilla, que foi parcialmente da











quinta-feira, 29 de maio de 2014

441- JARDIM ZOOLÓGICO DE LISBOA

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Jardim Zoológico de Lisboa [Zoo de Lisboa] – Lisboa (Portugal).

O Jardim Zoológico de Lisboa de Lisboa celebra hoje 130 anos!
Com uma das melhores colecções de animais do mundo (cerca de 2000 animais distribuídos por cerca de 330 espécies diferentes), enquadrados em espaços cada vez mais próximos dos seus habitats naturais, o Jardim Zoológico possui também uma oferta complementar única, quer ao nível das actividades que oferece aos seus visitantes, quer ao nível dos equipamentos de apoio.
O Jardim Zoológico de Lisboa já não é apenas um espaço zoológico tradicional, mas sim, um importante e atractivo espaço lúdico/ pedagógico em que, aliada à educação está uma forte componente de entretenimento e diversão.
Assim, o nosso parque apresenta, nos dias de hoje, um vasto conjunto de atracções que proporcionam aos seus visitantes, de todas as idades, momentos de lazer e diversão inesquecíveis mas, acima de tudo, a recordação de um dia bem passado.
Incluído no bilhete único, as principais atracções são: Baía dos Golfinhos - Apresentação de Golfinhos e Leões-marinhos; O Teleférico, a Quintinha, o Reptilário, a Alimentação de Leões- marinhos e Pelicanos; Bosque Encantado - Apresentação de Aves em Voo Livre; Cobras & Lagartos - Apresentação de Répteis e o Parque Arco-íris.
A maioria destas atracções são bastante interactivas, os nossos visitantes podem receber um beijinho de um golfinho ou de um leão-marinho, tocar numa cabra, numa ave exótica, numa ave de rapina e até, para os mais corajosos, numa serpente!
O Jardim Zoológico desenvolve várias actividades e programas para as escolas e para as famílias, onde as crianças aprendem sobre o mundo animal, as diferenças entre as várias espécies, os cuidados a ter com cada uma e o que é que cada um de nós pode fazer para ajudar na preservação do Planeta.
A educação é importante, mas o entretenimento também tem um papel essencial, assim e situado na área de entrada do Jardim Zoológico, os nossos visitantes encontram o Animax que é um parque de diversões de entrada livre que oferece uma série de equipamentos de diversão, restaurantes, lojas e áreas de descanso.
Na Loja do Zoo os visitantes podem encontrar uma grande variedade de produtos divertidos e diferentes com a assinatura do Jardim Zoológico de Lisboa - vestuário, animais de pelúcia, brinquedos e muito mais.
Jardim Zoológico, onde há sempre algo de novo para ver e... aprender!
[Fonte (adaptado): Turismo de Lisboa].

Fotos de Aires dos Santos.


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Foto do perfil de Luciene Ferreira LourencoFoto do perfil de Simao Armando MatsimbeFoto do perfil de Teresa FernandesFoto do perfil de lina neto

quarta-feira, 28 de maio de 2014

440 - PERGUNTAS DE UM OPERÁRIO LETRADO - BERTOLT BRECHT

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PERGUNTAS DE UM OPERÁRIO LETRADO

Quem construíu Tebas, a de sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis.
Mas foram os reis que transportaram as pedras?
Babilólia, tantas vezes destruida,
Quem outras tantas a reconstruíu? Em que casas
Da Lima dourada moravam seus obreiros?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde
Foram os seus pedreiros? A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergeu? Sobre quem
Triunfaram os Césars? A tão cantada Bizâncio
Só tinha palácios
Para os seus habitantes? Até a lendária Atlântida
Na noite em que o mar a enguliu
Viu afogados gritar por seus escravos.

O jovem Alexandre conquistou as Indias.
Sòzinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha
Chorou. E ningém mais?
Frederico II ganhou a Guerra dos Sete Anos.
Quem mais a ganhou?

Em cada página uma vitória.
Quem cozinhava os festins?
En cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?

Tantas histórias
Quantas perguntas.

BERTOLT BRECHT

439 FIGUEIRA DE CASTELO RODRIGO

439

FIGUEIRA DE CASTELO RODRIGO


438 - "ELOGIO DO TRABALHO CLANDESTINO" BERTOLT BRECHT

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ELOGIO DO TRABALHO CLANDESTINO

É bonito
Usar da palavra na luta de classes
Clamar alto e bom som pela luta de massas
Pisar os opressores libertar os oprimidos.
Árdua e útil é a pequena tarefa de cada dia
Que secreta e tenaz tece
A rede do partido sob
Os fuzis apontados dos capitalistas:
Falar mas
E.scondendo o orador.
Vencer mas
Escondendo o vencedor.
Morrer mas
Dissimulando a morte.
Pela glória, quem não faria grandes coisas? Mas quem
As fez pelo olvido?
No entanto, o pobre que mal come senta a honra à sua mesa;
Das pequenas cabanas em ruinas
Surge a grandeza irressistível.
E a glória busca em vão 
Os autores do grande feito.
Sai da sombra
Por um momento
Rostos anónimos, dissimulados, e aceitai
O nosso agradecimento.

BERTOLT BRECHT


terça-feira, 27 de maio de 2014

437 - "QUE ESPERAM AINDA DE MIM" - BERTOLT BRECHT

437

QUE ESPERAM AINDA DE MIM

1.Que esperam ainda de mim?

   Fiz todas as paciências, vomitei o Kirsch todo,
   Empilhei todos os livros no fogão,
   Amei todas as mulheres até cheirarem mal como o Leviatan.
   Agora que sou um grande santo, a minha orelha está tão podre
                                                         que em breve cairá,
   Então porque não há paz? Por que há sempre gente no pátio.
   Caixotes de lixo à espera que lá deitam la qualquer coisa?
   E no entanto já me fiz entender que não devem esperar de mim
                                                                o Cântico dos Cânticos.
   Atirei a polícia contra a freguesia.
   Quem quer que procurem, eu não sou quem procuram

2.De todos os meus irmãos sou eu o mais prático

    -- E isto começa pela minha cabeça.

    Os meus irmãos eram cruéis, eu sou o mais cruel,
    E choro de noite.

3.Com as tábuas da lei acabaram-se os vícios.

   Já se dorme com a irmã, sem nenhum prazer.
   O crime tornou-se demasiado penoso.
   Fazer versos é coisa  por demais comum.
   Em face da incerteza do momento
   Muitos preferem dizer a verdade
   Sem pensar no perigo que daí advém.
   As cortesãs salgam a carne para o Inverno.
   E o diabo já não vem buscar os melhores fregueses.

BERTOLT BRECHT


segunda-feira, 26 de maio de 2014

436 -. "ODE DOMÉSTICA" - MÁRIO CESARINY DE VASCONCELOS

436

ODE DOMÉSTICA

Tudo no teu sorriso diz
que só te falta um pretexto
para seres feliz

Uma querela talvez chegasse
ou um pequeno pastor que passasse
na estrada, com as suas ovelhas

O melhor
o pior
ou talvez uma nova posição da palavra
Almansor
Eu -- vou pensando em coisas velhas
(Sem sombra de desdém!)
Na vida  naquele lampejo fugaz
que o teu sorriso já não tem
e que é do passado
porque a nossa grande sabedoria
não soube tratar ente tão delicado

E declina, o dia

O pequeno pastor já não vem

Mário Cesariny de Vasconcelos

quarta-feira, 21 de maio de 2014

434 - "A UM POETA" LUÍS AMADO

434

          A UM POETA

                     (memorando Manuel Ribeiro de Pavia)

Não reveleis o sonho. A luz do dia
Fere demais a alma; e, oculta,
A face esquece a sua chaga rubra.

A dor, amordaçando, purifica:
Que ela se dê, no sangue, o novo alento
Para outros voos de que sairás vencido
(Mas entretanto vives...) E procura
Haurir na solidão a graça, o prémio
Daquele instante puro, essencial

A que não chega o vão rumor do tempo
Desfigurado e vil. E, já liberto,
Conhecerás tua verdade inteira

Ouvindo alguém, sem corpo nem memória,
Segredar-te as palavras invisíveis
De que é tecida a noite -- tua esperança!

              (In «Diálogos» -- Diário Ilustrado -- 30-7-57)

Luís Amado

segunda-feira, 19 de maio de 2014

433 - "PEDRA TUMULAR" - ANTÓNIO MANUEL COUTO VIANA

433

PEDRA TUMULAR

A minha geração fugiu à guerra,
Por isso a paz que traz não tem sentido:
É feita de ignorância e de castigo,
Tão rígida e tão fria como a pedra.

Desfazem-se-lhe as mãos em gestos frágeis,
Duma verdade inútil por vazia,
E a língua imóvel nega o som à vida,
Por hábito ou por falta de coragem.

Se há rumores lá de fora, às vezes, lembra:
Porque é que pulsa o coração do mundo,
Precipitado, angustioso, ardente?

Mas depressa submerge na indiferença
-- Que lhe deram um túmulo seguru;
E o relógio dá-lhe horas certas, sempre.
   
                                               (Mancha Solar)

António Manuel Couto Viana

sexta-feira, 16 de maio de 2014

431 - JOÃO MAIA - "BERNARDIM RIBEIRO"

431

BERNARDIM RIBEIRO

Quebrou-se-me nas mãos, antes de a ter,
Uma flauta rural, evocadora
Do puro campo e pura luz de aurora
E um arcádico rebanho a aparecer...

A minha alma ferida de viver,
Tem às vezes um rosto de pastora
A olhar para os montes onde mora
Esse rebanho que era bom tanger...

E bibrando de paz e de segredos,
A flauta quase nasce nos meus dedos
E o gado quasw surge pelos montes...

Mas que vento perturba a expectativa?
E mais funda, humana, e vingativa,
A angústia ocupa os horizontes.,..

João Maia


terça-feira, 13 de maio de 2014

430 - ANUNCIAÇÃO DA ALEGRIA - EUGÉNIO DE ANDRADE

430

 ANUNCIAÇÃO DA ALEGRIA

Devia ser verão, devia ser jovem:

ao encontro do dia caminhava
como quem entra na água.

Um corpo nu brilhava nas areias
-- corpo ou pedra, pedra ou flor?

Verde era a luz, e a espuma
do vento rolava pelas dunas.

De repente vi o mar subir a prumo,
desabar inteiro nos meus ombros.

E aprendia a falar na tua boca,
mordendo cada palavra de alegria.

Sem muros era a terra, e tudo ardia.

                                                    (Ostinato Rigore, in Poemas, 3ª. ed.)

Eugénio de Andrade



domingo, 11 de maio de 2014

428 - HISTÓRIA ANTIGA - JOSÉ SARAMAGO

428

HISTÓRIA ANTIGA

Não tinha compromissos, mas faltei,

Não preestei juramento, mas traí:
Sentir-me alguém culpado, não depende
Do juízo dos outros, mas de si.
É fácil companheira a consciência
Se dòcilmente aceita e concilia,
Difícil é calá-la quando somos
Mais puros afinal do que se cria.,
Um dia voltarei às dores do mundo,
À luta onde talvez não sou esperado,
Mas não agora, que as mãos tenho amarradas
Neste corpo de mulher aqui deitado.

José Saramago

sexta-feira, 9 de maio de 2014

427 -- UM MORTO DEU À COSTA - PEDRO SILVEIRA

427

UM MORTO DEU À COSTA

Tão sereno o rosto dele! e tão belos,
serenamente abertos, os seus olhos azuis!
-- Nâo lhes tocaram os peixes, não quizeram
violar-lhe  (quem sabe!) aquela serenidade.

Nada lhe dizia o nome, a pátria, o navio
que foi a casa dele de porto em porto,
-- Seria um santo? acaso El-rei Dom Sebastião?
-- Nunca se soube quem era o Capitão Morto .

A sortilha no dedo: seu sinal de casado.
E um canivete e um rosário no bolso da farda.
Mas nada que dissesse, de escrito, o seu nome!
-- O Capitão Morto que botaram no mar...

Um padre-nosso por alma do Santo
Capitão Morto arrojado p`lo mar...

Pedro da Silveira 

quinta-feira, 8 de maio de 2014

426 - «CONTENTE NUNCA ESTOU ...» REINALDO FERREIRA

..
426

«CONTENTE NUNCA ESTOU...»

Contente nunca estou; feliz não sei

Se existe alguém ou neste ou noutro mundo.
Vou para o Nada, sou do Nada oriundo,
E entre dois Nadas desventura é Lei.

Da cobarde esperança emancipei

A previsão do meu destino imundo.
Sou consciente do mal em que me afundo,
E consciente do mal continuarei.

Nem revolta me fica, apenas pressa

De me tornar por fim parada peça
No cósmico rolar nefasto e louco.

Depois quero dormir um sono enorme...

Que para uma aflição que nunca dorme,
A morte, temo bem que seja pouco.

Reinaldo Ferreira

quarta-feira, 7 de maio de 2014

425 - AFOGADO NO RIO LEÇA - EGITO GONÇALVES

425

AFOGADO NO RIO LEÇA

Vogavas entre duas águas com o corpo torcido
e a corrente impelia-te, vagarosamente. para a foz.
O coração batia mas já não respiravas;
a morte instalava-se  no teu corpo molhado.

Degavar montava a máquina dos sonhos...
devagar armava-te as futuras asas.
No mar afundam-se os símbolos da tarde;
enovelado, sem poesia, asfixiavas,
descendo o rio em direcção à liberdade.

As unhas violácias, os cabelos flutuando,
o sangue estrangulado, a fome liquefeita...

Então, como a um menino, alguém te conduziu para a
                                                    [margem relvada.
A morte sentou-se a ver os trabalhos de respiração
                                                      [artificial,
depois disse -te «Adeus», acenou-te »Até breve«,
e aproveitou a ambulância que te levava ao hospital
para ir mais depressa à sua vida.

Egito Gonçalves  

segunda-feira, 5 de maio de 2014

424 - O CANTO DE ORGE -- BERTOLT BRECHT

424

O CANTO DE ORGE

Dizia-me Orge:


                     1

O  lugar que na terra amamos mais
Não é a relva do túmulo dos nossos pais.

                      2

Dizia-me Orge: para mim o lugar que
Mais se deve desejar será sempre W.C.

                      3

Nesse lugar é permitida a cada um a alegria
De ter por cima a estrela, e, por baixo, a porcaria.

                     4

Lugar admirável on de po--
De adulto ficar só.

                     5

Lugar de humildade: nele saberás bem
Que não passas de um homem que nada retém

                     6

Lugar onde um corpo que no assento repousa
Faz com força e doçura por seu bem qualquer cousa

                     7

Lugar de sabedoria onde podes com lazer
Preparar a tua pança para muito outro prazer.

                      8

Nele te darás conta do que realmente és:
Um pobre tipo que come....nos ww. cc.

Bertolt Brecht



sexta-feira, 2 de maio de 2014

423 - XÁCARA DAS BRUXAS DANÇANDO - CARLOS DE OLIVEIRA

423

XÁCARA DAS BRUXAS DANÇANDO

                 1
Era outrora um conde
que fez um país,
com sangue de moiro,
com laranjas de oiro
como a sorte quiz.

Há bruxas que dançam
quando a noite dança,
são unhas de nojo,
são bicos de tojo,
num tambor de esperança.

Ventos sem destino
que dizeis às ramas?
Desgraça bramindo
é a nós que chamas.

No país que outrora
um conde teceu
com laranjas de oiro,
com sangue de moiro,
tudo apodreceu.

Anda o sol de costas
e as bruxas dançando
e os ventos do norte
sobre nós espalhando
as tranças da morte.

As estrelas mortas
apagam-se aos molhos:
vem, lume perdido,
florir-nos os olhos.

                2

Ama, estarás ouvindo
a história que vou contando?
Ó ama pátria dormindo
desde quando?

Desde tempos e memórias,
desde lágrimas e histórias,
desde cóleras e glórias,
agora te estou chorando
e tu dormindo
até quando?

As bruxas andam lá fora
e eu chorando
versos do país de outrora.

Dançam bruxas a ganir
de mãos dadas com o vento.
Ama, acorda; sopra o lume;
e não me deixes dormir
na noite do pensamento.

               3

Ó castelos moiros,
qrmas e tesoiros,
quem vos escondeu?
Ó laranjas de oiro,
que vento de agoiro
vos apodreceu?         

Há choros, ganidos,
há luz da caverna
onde as bruxas moram,
onde as bruxas dançan
quando os mochos amam
e as pedras choram.

Caravelas, caravelas,
mortas sobre as estrelas
como candeias sem luz;
e os padres da inquisição
fazendo dos vossos mastros
os braços da nossa cruz.

As bruxas dançam de roda
entre o visco dos morcegos,
dançam de roda, de rojo,
dançam voando, rasgando
a noite morta do povo
com as unhas, bicos de tojo.

                 4

E o tempo murchando
a luz de idos loiros.
Ama, até quando
estaremos chorando
os castelos moiros?

Lá vão naus da Índia,
lá se vão tesoiros.
E as bruxas dançando
e os ventos secando
as laranjas de oiro

Ama, até quando?

Na noite das bruxas
o lume no fim
e o vento ganindo.

Ama, estarás ouvindo?

O lume no fim
e os homens dispersos.

Ama, tens frio;
cinge-te a mim
e aquece-te ao lume
queimando os meus versos.

                              (Mãe Pobre, in Poesias, 2ª.ed. revista)

Carlos de Oliveira

422 - AMÂNDIO CÉSAR - QUE HORA É ESTA?

422

QUE HORA É ESTA?

É em vão que o sol doira
As asperesas da terra:
Secou na seara loira
Toda a esperança que ela encerra.

Baldadas todas as horas,
Todos os passos sem fim.
Murchou de vez o alecrim,
Secaram roxas amoras.

É quente a água das fontes,
Escalda o sangue nas veias:
São de fogo os grãos de areias
E as pragas negras dos montes.

Para quê  lutar ainda
Numa luta sem sentido?
Sofre-se por ter sofrido
Esta angústia que não finda.

Angústia que sobe à boca
Que amarga como a amargura
-- Existência mal segura,
Fazenda que mal dá roupa.

Cansaram-nos assim de tudo,
Todos nos pesam demais
-- Os poetas são jograis
E o cantar quase mudo

                 (As Margens da Memória)

Amândio César


quinta-feira, 1 de maio de 2014

421 - FRANCISCO JOSÉ TENREIRO - CANÇÃO DE FIÁ MALICHA

421

CANÇÃO DE FIÁ MALICHA

«Lenço di seda 
                        .... Seda càbou!»
                                 O branco arregalou os olhos:
                                        Negrinha tão tenra
                                       de peito durinho!
«Saia de pano 
             .... Pano càbou!»

                       No sòcòpé  seu branco a tomou:
                                Negrinha tão tenra
                                 de riso tão largo!

«Vinho di plôto
                  ....Plôto acabou"»

                           Seu branco deu tudo:
                               «té roça montou!«

                           
                           Mas mina piquina
                                        tudo càbou....
                                      
                                        (Ilha de nome Santo)  a)

Francisco José Tenreiro

a) S. Tomé