quarta-feira, 7 de maio de 2014

425 - AFOGADO NO RIO LEÇA - EGITO GONÇALVES

425

AFOGADO NO RIO LEÇA

Vogavas entre duas águas com o corpo torcido
e a corrente impelia-te, vagarosamente. para a foz.
O coração batia mas já não respiravas;
a morte instalava-se  no teu corpo molhado.

Degavar montava a máquina dos sonhos...
devagar armava-te as futuras asas.
No mar afundam-se os símbolos da tarde;
enovelado, sem poesia, asfixiavas,
descendo o rio em direcção à liberdade.

As unhas violácias, os cabelos flutuando,
o sangue estrangulado, a fome liquefeita...

Então, como a um menino, alguém te conduziu para a
                                                    [margem relvada.
A morte sentou-se a ver os trabalhos de respiração
                                                      [artificial,
depois disse -te «Adeus», acenou-te »Até breve«,
e aproveitou a ambulância que te levava ao hospital
para ir mais depressa à sua vida.

Egito Gonçalves  

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