sexta-feira, 2 de maio de 2014

422 - AMÂNDIO CÉSAR - QUE HORA É ESTA?

422

QUE HORA É ESTA?

É em vão que o sol doira
As asperesas da terra:
Secou na seara loira
Toda a esperança que ela encerra.

Baldadas todas as horas,
Todos os passos sem fim.
Murchou de vez o alecrim,
Secaram roxas amoras.

É quente a água das fontes,
Escalda o sangue nas veias:
São de fogo os grãos de areias
E as pragas negras dos montes.

Para quê  lutar ainda
Numa luta sem sentido?
Sofre-se por ter sofrido
Esta angústia que não finda.

Angústia que sobe à boca
Que amarga como a amargura
-- Existência mal segura,
Fazenda que mal dá roupa.

Cansaram-nos assim de tudo,
Todos nos pesam demais
-- Os poetas são jograis
E o cantar quase mudo

                 (As Margens da Memória)

Amândio César


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