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A UM POETA
(memorando Manuel Ribeiro de Pavia)
Não reveleis o sonho. A luz do dia
Fere demais a alma; e, oculta,
A face esquece a sua chaga rubra.
A dor, amordaçando, purifica:
Que ela se dê, no sangue, o novo alento
Para outros voos de que sairás vencido
(Mas entretanto vives...) E procura
Haurir na solidão a graça, o prémio
Daquele instante puro, essencial
A que não chega o vão rumor do tempo
Desfigurado e vil. E, já liberto,
Conhecerás tua verdade inteira
Ouvindo alguém, sem corpo nem memória,
Segredar-te as palavras invisíveis
De que é tecida a noite -- tua esperança!
(In «Diálogos» -- Diário Ilustrado -- 30-7-57)
Luís Amado
A UM POETA
(memorando Manuel Ribeiro de Pavia)
Não reveleis o sonho. A luz do dia
Fere demais a alma; e, oculta,
A face esquece a sua chaga rubra.
A dor, amordaçando, purifica:
Que ela se dê, no sangue, o novo alento
Para outros voos de que sairás vencido
(Mas entretanto vives...) E procura
Haurir na solidão a graça, o prémio
Daquele instante puro, essencial
A que não chega o vão rumor do tempo
Desfigurado e vil. E, já liberto,
Conhecerás tua verdade inteira
Ouvindo alguém, sem corpo nem memória,
Segredar-te as palavras invisíveis
De que é tecida a noite -- tua esperança!
(In «Diálogos» -- Diário Ilustrado -- 30-7-57)
Luís Amado
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