quarta-feira, 21 de maio de 2014

434 - "A UM POETA" LUÍS AMADO

434

          A UM POETA

                     (memorando Manuel Ribeiro de Pavia)

Não reveleis o sonho. A luz do dia
Fere demais a alma; e, oculta,
A face esquece a sua chaga rubra.

A dor, amordaçando, purifica:
Que ela se dê, no sangue, o novo alento
Para outros voos de que sairás vencido
(Mas entretanto vives...) E procura
Haurir na solidão a graça, o prémio
Daquele instante puro, essencial

A que não chega o vão rumor do tempo
Desfigurado e vil. E, já liberto,
Conhecerás tua verdade inteira

Ouvindo alguém, sem corpo nem memória,
Segredar-te as palavras invisíveis
De que é tecida a noite -- tua esperança!

              (In «Diálogos» -- Diário Ilustrado -- 30-7-57)

Luís Amado

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