terça-feira, 27 de maio de 2014

437 - "QUE ESPERAM AINDA DE MIM" - BERTOLT BRECHT

437

QUE ESPERAM AINDA DE MIM

1.Que esperam ainda de mim?

   Fiz todas as paciências, vomitei o Kirsch todo,
   Empilhei todos os livros no fogão,
   Amei todas as mulheres até cheirarem mal como o Leviatan.
   Agora que sou um grande santo, a minha orelha está tão podre
                                                         que em breve cairá,
   Então porque não há paz? Por que há sempre gente no pátio.
   Caixotes de lixo à espera que lá deitam la qualquer coisa?
   E no entanto já me fiz entender que não devem esperar de mim
                                                                o Cântico dos Cânticos.
   Atirei a polícia contra a freguesia.
   Quem quer que procurem, eu não sou quem procuram

2.De todos os meus irmãos sou eu o mais prático

    -- E isto começa pela minha cabeça.

    Os meus irmãos eram cruéis, eu sou o mais cruel,
    E choro de noite.

3.Com as tábuas da lei acabaram-se os vícios.

   Já se dorme com a irmã, sem nenhum prazer.
   O crime tornou-se demasiado penoso.
   Fazer versos é coisa  por demais comum.
   Em face da incerteza do momento
   Muitos preferem dizer a verdade
   Sem pensar no perigo que daí advém.
   As cortesãs salgam a carne para o Inverno.
   E o diabo já não vem buscar os melhores fregueses.

BERTOLT BRECHT


Sem comentários:

Enviar um comentário