terça-feira, 13 de maio de 2014

430 - ANUNCIAÇÃO DA ALEGRIA - EUGÉNIO DE ANDRADE

430

 ANUNCIAÇÃO DA ALEGRIA

Devia ser verão, devia ser jovem:

ao encontro do dia caminhava
como quem entra na água.

Um corpo nu brilhava nas areias
-- corpo ou pedra, pedra ou flor?

Verde era a luz, e a espuma
do vento rolava pelas dunas.

De repente vi o mar subir a prumo,
desabar inteiro nos meus ombros.

E aprendia a falar na tua boca,
mordendo cada palavra de alegria.

Sem muros era a terra, e tudo ardia.

                                                    (Ostinato Rigore, in Poemas, 3ª. ed.)

Eugénio de Andrade



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